DE PESSOAS E CÃES
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
Muito longe do “Animal político´
- terminologia tão a gosto de esquerdistas e conservadores, também acompanho o
desenrolar desse novo pleito que se delineia alvissaro para boa parte da
população. Quando criança, embora sem candidato formal, ficava grudado ao pé do
rádio ouvindo “a marcha das eleições”, boletim que tinha em Haroldo Miranda o
âncora perfeito.
Depois de tantos anos “ligado” em
eleições fico pensando se têm razão os que dizem que os políticos dividem-se em
duas metades: “os que comem e os que querem comer”. Aceite-se ou não, há um
evidente cansaço popular que se projeta nos índices de reprovação dos
institutos de pesquisa. O modelo errou muito. Por isso a insatisfação
Mas em meio ao caos
administrativo que povoa os setores mais caros à população, nossa pequenina
Alagoas pode se orgulhar dos seus parlamentares. Quero acreditar que Tavares
Bastos e Sinimbú ficariam envaidecidos pelo alto nível moral das nossas casas
legislativas. Com efeito, esses dois monarquistas, que se digladiavam reunidos
em grupos denominados “Lisos” e “Cabeludos”, foram exemplos de firmeza de
caráter. Tudo a ver com a nossa bancada.
Maceió nos meados do século XVIII
viveria intensos embates entre os dois grupos que muitas vezes fugiam do campo
das ideias e descambavam para as agressões físicas. O bairro de Bebedouro seria
palco privilegiado dessas escaramuças, que no frigir dos ovos pouco produziram.
Eram monarquistas versus monarquistas.
Falo de Bebedouro e de momentos
políticos e me lembro do Rex, o cachorro que me atormentou a infância. Um
vira-lata, Rex, teve seus momentos de glória. Era um policial miscigenado, de
abundante penugem negra e extremamente desobediente. Latia com estranhos, o que
parecia ser uma característica aceitável. Nas inúmeras brigas entre os irmãos,
Rex se agitava, latia, rosnava e, finalmente, tentava interferir na contenda. O
problema era que o cara só mordia a mim. Um detalhe nos entristecia: não era
tão valente nas disputas com outros cães. Certa ocasião, cobrir-nos-ia de particular vergonha: o cão do jornalista e
político JA, com quem meu pai mantinha insalubre distanciamento, deu uma
montada por trás no Rex, à moda dos cachorros. Por tudo, creio que ele não nos orgulhava. Talvez essa
seja uma das razões que me fazem manter prudente distância de todo ser que
rosna, late e às vezes morde.
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