A CURA DA MEGALOMANIA
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
Tinha 12 anos quando a minha
família foi viver num hospital psiquiátrico. Não há muitas experiências
semelhantes no mundo. Quero acreditar que a convivência diuturna com portadores
de distúrbios mentais não tenha nos tornado mais ou menos “loucos” em relação à
média das pessoas ditas “normais”. Adquirimos um feeling, um faro para
identificar malucos a quilômetros de distância.
Se nos primórdios o envolvimento
familiar restringia-se a auxiliar administrativo e a “agitador esportivo”, ao
ingressarmos na Faculdade de Medicina a participação teria contornos mais
“profissionais”, digamos assim. Orientados por nosso pai, aprendemos a ouvir os
pacientes e a escrever o que nos era dito. A doutrina da “irrefutabilidade” dos
delírios e alucinações nos psicóticos foi uma das primeiras lições.
Nas anamneses é que desvendávamos
o móvel que tinha levado aquelas criaturas a procurarem auxílio num hospital
psiquiátrico. De fato, não havia convencimento. O padecente estava certo de um
complô entre seu vizinho e sua mulher e nada o convencia da inverosimilhança.
Seus pensamentos eram lidos por todos... Americanos ou russos iriam invadir o
País a qualquer momento...
Dias depois éramos surpreendidos.
Submetidos a tratamento com neurolépticos ou eletrochoque, aquelas
inquebrantáveis certezas haviam se desmanchado no ar como os sólidos de Marx.
Convicções inabaláveis transformavam-se em meras desconfianças, quando muito. A
esposa era recebida com alegria. Até o vizinho era alvo de boas vindas.
Enveredei pela espinhosa
neurocirurgia, mas não me abandonou o cacoete de observar com o olhar psiquiátrico. Às vezes é
desagradável. Pior é quando invade os meus comentários políticos.
Até há pouco, por exemplo, havia
uma inelutável certeza de vitória da governista. Seria um banho ainda no primeiro
turno. Vaiada e detestada, a “presidenta-gerenta” brandia índices escandinavos
de aprovações. Estranhamente, conversava-se com as pessoas e o nome da
arrogante “presidenta-gerenta” não tinha essa bola toda. Só os apaniguados e
socialistas mantinham-se irrefutáveis.
Pouco afeitos ao contrário,
disseram o diabo de Aécio. Lulista travestido de oposicionista, o finado
Eduardo Campos foi taxado de “Judas” por um Lula magoado. Ainda assim verteria
incríveis lágrimas no enterro do rapaz.
Surgiu Marina a estourar a boca
do balão. Os delírios de poder estão minguando. Incerteza e desalento habitam
as almas governistas et alii. Tomaram neurolépticos e estão se curando da
megalomania. Talvez não cheguem ao segundo turno.
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