segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O FILME SOBRE NISE DA SILVEIRA

O FILME SOBRE NISE DA SILVEIRA

Meu querido irmaozinho Carlito Lima vc sabe o quanto eu o prezo. A emoção de um grande filme faz, às vezes, visualizarmos genocidas (Stalin, Hitler, Mao e tantos outros) como pessoas boníssimas incapazes de fazerem mal a um pinto. Não é o caso, evidentemente, de nossa conterrânea. Pelos depoimentos, estou convencido da sua doçura. Era tímida e edulcorada. Franzina, amava gatos. Incentivou uma prática centenária na psiquiatria, a terapia ocupacional ou praxiterapia. Descobriu alguns talentos entre aqueles milhares de internados no complexo psiquiátrico do Engenho de Dentro. Seu método nunca curou ninguém. Como cientista (não queria dizer isso) foi catastrófica. Ao desprezar o eletrochoque mostrou todo o seu nanismo científico. Se ela fosse ouvida, milhares de pacientes deixariam de se beneficiar com esse tratamento. Também teria demonstrado sua desaprovação pela lobotomia.
 O eletrochoque continua sendo usado, meu caro irmãozinho. Imagine vc, como exsoldado, resolver ir a uma guerra e esquecer da pistola ds balas... A lobotomia foi abandonada tão logo os neurolépticos foram descobertos. Não dependeu, portanto de nossa ilustre conterrânea. Não discuto sobre a injustiça de sua prisão. A única crítica que lhe faço é pelo fato de horrorizar-se com uma crise convulsiva (que os eletrochoques produziam) e ignorar os milhões de assassinatos perpretados pelo regime que sonhava. Mas nesse quesito ela não está sozinha.

Não quero aborrecê-lo com minhas palavras. Só quero concluir dizendo que um simples comprimido de haldol é mais benéfico para um psicótico de que milhares de pincéis e latas de tinta. Num país de tão poucos heróis, daqui a pouco vão fazer um filme enaltecendo a guerrilheira Stela e justificar os assaltos a bancos e a casas de família como provas de um coração generoso. Será mais uma benfeitora da humanidade protagonizada pela excelente Glória Pires. Chorarei lágrimas de esguincho.

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