O FILME
SOBRE NISE DA SILVEIRA
Meu
querido irmaozinho Carlito
Lima vc sabe o quanto eu o prezo. A emoção de um grande filme
faz, às vezes, visualizarmos genocidas (Stalin, Hitler, Mao e tantos outros)
como pessoas boníssimas incapazes de fazerem mal a um pinto. Não é o caso,
evidentemente, de nossa conterrânea. Pelos depoimentos, estou convencido da sua
doçura. Era tímida e edulcorada. Franzina, amava gatos. Incentivou uma prática
centenária na psiquiatria, a terapia ocupacional ou praxiterapia. Descobriu
alguns talentos entre aqueles milhares de internados no complexo psiquiátrico
do Engenho de Dentro. Seu método nunca curou ninguém. Como cientista (não
queria dizer isso) foi catastrófica. Ao desprezar o eletrochoque mostrou todo o
seu nanismo científico. Se ela fosse ouvida, milhares de pacientes deixariam de
se beneficiar com esse tratamento. Também teria demonstrado sua desaprovação
pela lobotomia.
O eletrochoque continua sendo usado, meu caro
irmãozinho. Imagine vc, como exsoldado, resolver ir a uma guerra e esquecer da
pistola ds balas... A lobotomia foi abandonada tão logo os neurolépticos foram
descobertos. Não dependeu, portanto de nossa ilustre conterrânea. Não discuto
sobre a injustiça de sua prisão. A única crítica que lhe faço é pelo fato de
horrorizar-se com uma crise convulsiva (que os eletrochoques produziam) e
ignorar os milhões de assassinatos perpretados pelo regime que sonhava. Mas nesse
quesito ela não está sozinha.
Não quero
aborrecê-lo com minhas palavras. Só quero concluir dizendo que um simples
comprimido de haldol é mais benéfico para um psicótico de que milhares de
pincéis e latas de tinta. Num país de tão poucos heróis, daqui a pouco vão
fazer um filme enaltecendo a guerrilheira Stela e justificar os assaltos a
bancos e a casas de família como provas de um coração generoso. Será mais uma
benfeitora da humanidade protagonizada pela excelente Glória Pires. Chorarei
lágrimas de esguincho.
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