sexta-feira, 8 de agosto de 2014

ESCORÇO HISTÓRICO DA CONTEMPORÂNEA NEUROCIRURGIA ALAGOANA



ESCORÇO HISTÓRICO DA CONTEMPORÂNEA NEUROCIRURGIA ALAGOANA
Ronald Mendonça
Neurocirurgião da Santa Casa. Membro da AAL
Há 42 anos, o Dr. Abynadá Liro, caruaruense de nascimento e alagoano por opção emigrou para nossa cidade. Na mala, a firme vontade de exercer a Neurocirurgia. Até 1972, ano de sua chegada, sofrer um Traumatismo Cranioencefálico em nosso Estado era uma tragédia. As doenças neurológicas eram quase desconhecidas, enigmáticas, carregadas de tabus.
Na enfermaria da Santa Casa, praticamente morador do Hospital, havia um paciente  com  Mal de Parkinson. Com efeito, o Sr. Izídio era a pièce de résistance da Neurologia acadêmica. "Ensinou" a várias gerações de médicos.
 Abynadá arregaçaria  as mangas. Foi para a emergência  do HPS da Dias Cabral. Entrou na Ufal e na ECMAL e destacou as patologias mais frequentes. Doenças como Epilepsia, Cefaléia e AVC passariam a ter abordagem científica organizada. Os portadores de tumores cerebrais não precisavam mais transferir-se para outros Estados. Finalmente, a Neurologia era exercida por alguém do metier.
Izídio receberia alta melhorado, até porque a levodopa foi descoberta e a doença foi desmistificada.
A Santa Casa passaria a ser o bunk do Prof. Abynadá. Em 1977 juntei-me ao professor. Nos anos 80, a Neurocirurgia ampliaria seus quadros com a chegada de outros colegas neurocirurgiões. Extraordinário salto de qualidade, um Tomógrafo Computadorizado foi adquirido. Diagnósticos precoces e precisos  passariam a ser feitos. Na realidade, o Tomógrafo mudou a feição da Neurologia no mundo todo.
Pouco tempo depois, graças à obstinação da equipe de Neurocirurgia, a Santa Casa seria  pioneira na aquisição de um aparelho de Ressonância Magnética.  Embora sem o impacto da Tomografia, a chegada da Ressonância foi um salto com vara em direção `à perfeição estética.
 Antes disso, em 1978, aportaria na Santa Casa a primeira equipe de cirurgia cardíaca. Tomamos carona no bonde dos cardiologistas, sobretudo em relação à UTI e à angiografia seriada por cateterismo. Foi uma proveitosa  troca .Ensinamos a Neuroradiologia aos hemodinamistas a  eles faziam os exames para nós. Os biológos chamam essa colaboração em dupla via  de simbiose. Os rapazes aprenderam rápido. Em breve estavam dando laudos sem nossa ajuda.
 Não se pode falar em Neurorradiologia e na história da Neurocirurgia em Alagoas sem mencionar o saudoso Prof. Eduardo Jorge Silva. Chefe do Serviço de Radiologia, criativo, na época em que fazíamos as angiografias puncionando as artérias no pescoço, ele bolaria um escamoteador de três filmes. Eduardo Jorge foi fundamental como mentor e avalista na aquisição de novas tecnologias. Um sonhador que viu seus sonhos tornarem-se realidade.

Nesse escorço histórico, assinalamos que o Dr. Abynadá continua  no exercício da Neurologia Clínica. Um grande desfalque: em pleno fastígio profissional, declinou de operar.  Sem dúvidas, a semente plantada pelo caruaruense frutificou  e espalhou-se pelo Estado. Talvez já tenhamos 20 neurocirurgiões ocupando não só os grandes hospitais de Maceió e também nas principais cidades do interior.
No ano passado tivemos a lúcida iniciativa de comemorarmos os quarenta anos de Neurocirurgia em Alagoas. Exercendo uma natural liderança pela indiscutível experiência e capacidade dos seus quadros neurocirúrgicos, a Santa Casa de Maceió reuniu especialistas renomados e realizamos um encontro científico de gala.
Alagoas pode se orgulhar:  a nossa equipe de Neurocirurgia da Santa Casa contabiliza cerca de quinze mil neurocirurgias nesses 42 anos. É uma cifra que deixa  os visitantes impressionados. A fila anda. A mais nova aquisição da Neurocirurgia da bicentenária instituição foi um potentíssimo  microscópio cirúrgico. Os astronautas da Nasa estão loucos de inveja.

Nesta sexta-feira (08/08/2014) , repetimos a dose de esbanjamento científico. Com o apoio moral do CRM,  convidados de todos os rincões do País estiveram presentes em mais um encontro, debatendo a Neurocirurgia contemporânea sem perder de vista o que nos espera nos próximos anos. O local escolhido não poderia ser mais significativo: o auditório da própria Santa Casa. Nesse jaez, o neurocirurgião Prof. Aldo Calaça, um dos delfins da Neurocirurgia alagoana,  foi incansável na organização do evento.

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