DE VOLTA AO MAR DE LAMA
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
O amor dos comunistas a Getúlio
Vargas poderá ser compreendido a partir da Síndrome de Estocolmo. Segundo a
doutrina que tenta explicar a “Sindrome” (paixão que o humilhado desenvolve
pelo opressor) seria um mecanismo psicológico complicadíssimo que envolveria
temor, submissão e, finalmente, identificação/empatia com o elemento agressor.
Todos sabem que foi durante a
ditadura Vargas que pessoas do quilate de Graciliano Ramos, Sebastião da Hora,
dentre outros, sofreram irreconciliáveis humilhações com encarceramentos,
torturas psicológicas e outros que tais.
A outros cidadãos, mesmo estrangeiros, o aparato policial-repressivo liderado
por Filinto Muller, foi reservado tratamento brutal somente repetido nas mais
ferozes ditaduras. Inclusive na ditadura militar que se instalou no Brasil a
partir de 1964.
Muller tinha uma diferença
pessoal com Carlos Prestes, o grande líder comunista da época. Estranhavam-se. Trocavam
farpas que variavam de roubo a homossexualismo. Quer parecer ingênuo afirmar
que Vargas ignorava o que se passava nos porões de sua ditadura. O “Pai dos
Pobres” e a “Mãe dos Ricos” era
combatido pelas esquerdas e pelos movimentos de direita. Mesmo assim ficou no poder
15 anos.
Carlos Prestes encenaria um
episódio de beija-mão público com
Getúlio Vargas que as pessoas normais têm dificuldades de entender. Sobretudo,
depois de escorraçado e de ter sua companheira, a judia-alemã Olga Benário, entregue de bandeja aos nazistas de Hitler.
Olga estava grávida, supostamente do próprio Prestes, o que torna o ato mais
abominável. Benário era uma terrorista caçada pelos alemães. Vargas flertava
com Hitler. Aliás, outros líderes também flertavam com o bigodinho alemão,
inclusive o bigodudo ditador russo Stalin.
Diferentemente de Dilma Rousseff, que não pode
ir a lugar nenhuma que recebe vaias (“da elite branca”), Getúlio Dornelles
Vargas era amado. Tanto que, cinco anos após ser defenestrado, voltaria
glorioso nos braços do povo. O “Velho”, como era carinhosamente tratado, era
carismático. Em 24 de agosto de 1954, o gesto extremo do suicídio o purificaria
de todos os excessos cometidos.
É querer torcer a história
afirmar-se que quem matou Getúlio foi a UDN, Carlos Lacerda e outros
“comparsas”. Com efeito, no mandato presidencial regularmente eleito, as
vagabundagens governamentais eram
denunciadas. O “Mar de Lama” que cercava o presidente era simbolizado por
Gregório, seu guarda-costas, e pela família. O envolvimento do próprio filho
cobriria o velho estancieiro de incoercível vergonha.