DIDA E SALDANHA
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
Ídolo da maior torcida do País, nunca
ficou muito clara a substituição do
alagoano Dida depois do primeiro jogo do Brasil, na Copa de 1958. Afinal, embora
ele não tenha marcado, o Brasil derrotou a Áustria por 3 x 0. À sorrelfa diz-se
que sua amizade com o armador Rubens, ambos do Flamengo, teria afrontado os
preconceituosos dirigentes da CBD. Dida seria substituído por Mazzola, um
centroavante. Pelé, o reserva oficial, só estrearia no terceiro jogo.
João Saldanha era uma das poucas
pessoas no mundo que sabia o porquê dos times de futebol serem compostos por
onze jogadores. Esporte bretão, o futebol teria se desenvolvido nos colégios
ingleses. As turmas de garotos/adolescentes eram compostas por dez alunos.
Cada turma tinha o seu bedel, que
ficava no frio assistindo o cotejo. Como ninguém queria ficar no gol, a
“escalação” dos bedeis como décimo primeiro jogador seria um pulo. Além da
função precípua de impedir os gols do adversário, havia uma outra, digamos,
complementar e menos nobre: procurar a bola quando desaparecia nas matas que
circundavam o campo...
Saldanha conhecia muitas
histórias de futebol. Pertencia também àquela casta de “comunistas lights” que
adoravam discutir as crises cíclicas do capitalismo na mesa de um bar, regado a
um bom escocês.
Técnico de pouca experiência, em
1969, aceitou o convite para comandar a seleção brasileira numa fase
complicada. É que o escrete vinha de uma participação bisonha na Copa de 1966,
em Londres, quando foi derrotado por Portugal, em jogo histórico.
Saldanha organizaria a seleção
dando nome aos bois. Depois de brilhar nas eliminatórias, as “feras” de
Saldanha já não faziam mais o mesmo sucesso. Em jogo treino, às vésperas da
Copa de 1970, as feras empatariam com o Bangu.
Pouco afeito a críticas, chegaria
a invadir as dependências do Flamengo, revólver em punho, para tomar
satisfações com o técnico Yustrich, um brutamontes que marcou época. A lua de
mel de Saldanha com a torcida e a imprensa havia terminado.
Quando a seleção começou a não
render o esperado, os milhões de “técnicos” espalhados pelo Brasil ofereceram
sugestões. Um desses “técnicos” seria ninguém menos que o general Médici, o
“ditador de plantão”.
Consta que Médici, diante de resposta atravessada de Saldanha,
teria envidado esforços para derrubá-lo do cargo. Ainda sob o impacto da
demissão, JS justificou ter barrado o Pelé em um dos amistosos, sob a
argumentação de que o “Rei” tinha sérios problemas visuais.
Hoje tenho dificuldade para
aceitar que João Saldanha tenha sido demitido pelo fato de ser comunista. Se as
convicções políticas fossem, de fato, decisivas, ele sequer teria sido chamado
para ser técnico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário