quarta-feira, 9 de julho de 2014

DIDA E SALDANHA



DIDA E SALDANHA
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
Ídolo da maior torcida do País, nunca ficou  muito clara a substituição do alagoano Dida depois do primeiro jogo do Brasil, na Copa de 1958. Afinal, embora ele não tenha marcado, o Brasil derrotou a Áustria por 3 x 0. À sorrelfa diz-se que sua amizade com o armador Rubens, ambos do Flamengo, teria afrontado os preconceituosos dirigentes da CBD. Dida seria substituído por Mazzola, um centroavante. Pelé, o reserva oficial, só estrearia no terceiro jogo.
João Saldanha era uma das poucas pessoas no mundo que sabia o porquê dos times de futebol serem compostos por onze jogadores. Esporte bretão, o futebol teria se desenvolvido nos colégios ingleses. As turmas de garotos/adolescentes eram compostas por dez alunos.
Cada turma tinha o seu bedel, que ficava no frio assistindo o cotejo. Como ninguém queria ficar no gol, a “escalação” dos bedeis como décimo primeiro jogador seria um pulo. Além da função precípua de impedir os gols do adversário, havia uma outra, digamos, complementar e menos nobre: procurar a bola quando desaparecia nas matas que circundavam o campo...
Saldanha conhecia muitas histórias de futebol. Pertencia também àquela casta de “comunistas lights” que adoravam discutir as crises cíclicas do capitalismo na mesa de um bar, regado a um bom escocês.
Técnico de pouca experiência, em 1969, aceitou o convite para comandar a seleção brasileira numa fase complicada. É que o escrete vinha de uma participação bisonha na Copa de 1966, em Londres, quando foi derrotado por Portugal, em jogo histórico.
Saldanha organizaria a seleção dando nome aos bois. Depois de brilhar nas eliminatórias, as “feras” de Saldanha já não faziam mais o mesmo sucesso. Em jogo treino, às vésperas da Copa de 1970, as feras empatariam com o Bangu.
Pouco afeito a críticas, chegaria a invadir as dependências do Flamengo, revólver em punho, para tomar satisfações com o técnico Yustrich, um brutamontes que marcou época. A lua de mel de Saldanha com a torcida e a imprensa havia terminado.
Quando a seleção começou a não render o esperado, os milhões de “técnicos” espalhados pelo Brasil ofereceram sugestões. Um desses “técnicos” seria ninguém menos que o general Médici, o “ditador de plantão”.
Consta que Médici,  diante de resposta atravessada de Saldanha, teria envidado esforços para derrubá-lo do cargo. Ainda sob o impacto da demissão, JS justificou ter barrado o Pelé em um dos amistosos, sob a argumentação de que o “Rei” tinha sérios problemas visuais.
Hoje tenho dificuldade para aceitar que João Saldanha tenha sido demitido pelo fato de ser comunista. Se as convicções políticas fossem, de fato, decisivas, ele sequer teria sido chamado para ser técnico.

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