quinta-feira, 3 de outubro de 2013

LIVERPOOL DOS BEATLES E DE APRIL ASHLEY


 

LIVERPOOL DOS BEATLES E DE APRIL ASHLEY

Por: » RONALD MENDONÇA - médico e membro da AAL.

Bebedouro da minha infância retorna com toda a força aqui em Liverpool. A cidade cultua, exala e transpira os Beatles. Há outras paixões, o futebol, por exemplo. Na Caverna (point obrigatório), santuário dos beatlemaníacos, admito que curti as velhas canções. Mas, saí um pouco frustrado pela não audição de Yesterday.
Fico chateado pelos meus amigos alucinados pelo quarteto de Liverpool. Quando ele (o quarteto ) surgiu, lá pelos anos sessenta do século passado, confesso, eu não me entusiasmei. Talvez os mais experientes se recordem. As emissoras de rádio de Alagoas levariam tempo até aderir ao modismo dos Beatles. Bolerões e sambas-canções, embora em evidente declínio, ainda encontravam público. Como num tsunami, a música gerada em Liverpool foi ocupando espaços cada vez maiores. Até a recém-criada bossa nova acusaria o golpe. Roberto Carlos – e as tardes de domingo –, claramente influenciado pelo novo ritmo, quase transformaria  violão e sanfona em peças de museu.
Em casa, ouvíamos Cauby Peixoto e Angela Maria bem baixinho, envergonhados, com medo que os vizinhos pudessem perceber nossa miséria moral. Nelson Gonçalves, nem pensar!
Penitencio-me perante os meus estoicos leitores pela minha rude sensibilidade musical. Vou admitir sem arrodeios: matuto complexado de Bebedouro, não gostava de canções estrangeiras. Era um xenófobo de carteirinha, se é que vocês me entendem. Aos 12, 13 anos, detestava os Beatles, Frank Sinatra, Elvis Presley… Tinha, com reservas, uma certa simpatia por Edith Piaf, muito mais mais pela sonoridade linguística.
Francisco Alves, Vicente Celestino, Carlos Galhardo, Silvio Caldas, Pixinguinha, Cartola, Noel Rosa, Elizete Cardoso, Dalva de Oliveira, Núbia Lafayette e algumas mais preenchiam o universo sonoro da minha adolescência. Não nego a atração pelos fados portugueses.
A grande verdade é que não evoluí muito no quesito gosto musical. Mas, eis que de repente, o velho dinossauro bebedourense está em Liverpool. Convocado para palestras no Velho Mundo, na mala mais de cinco mil neurocirurgias, alguém achou que minha presença e do colega Aldo Calaça poderiam ser interessantes.
Não foi, assim, a paixão pelos Beatles que me trouxe a Liverpool. Muito menos, a história de madame April Ashley, a primeira transsexual operada no mundo, ícone mundial do transsexualismo, orgulho e glória dos nativos da cidade.


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