sábado, 27 de julho de 2013


QUEM FOR PODRE QUE SE QUEBRE

RONALD MENDONÇA

MÉDICO E MEMBRO DA AAL

Lula voltou nas sombras do quarto minguante de madame Dilma. Glorioso como um Júlio César depois de atravessar o Rubicão, trazendo no alforje os manuscritos de De Bello Gallico. Naturalmente tendo cuidado de não molhar o precioso pergaminho, ainda que  nem ele mesmo desconfiasse que sobreviveria 22 séculos.

Tal um Ulisses – sem os dissabores. Se não teve uma Tróia, um cavalo que ficaria para a história, sereias e monstros ciclópicos, Lula  retorna cantando de galo sobre o implacável caranguejo, que impiedoso roía suas rouquenhas cordas vocais. Se lhe falta uma  Penélope, há  Dilmas e Roses e profusões de  viuvinhas de sindicalistas. Nesse aspecto, dá de  goleada no mito de Ítaca.

Com gosto de gás e as unhas afiadas,      ele  reapareceu. Saúde de touro reprodutor. Exalando honestidade, logo percebe-se o quanto de crescimento espiritual e moral nesses dois anos de recolhimento.  Precisava alguém lúcido para colocar os pingos nos ii. Sim, porque ninguém antes havia atentado que o grande culpado pelo descalabro da Saúde  atende pelo nome de oposição.

 Precisou que o velho Lula saísse de sua choupana -um cenobita- do seu merecido repouso, abandonasse  conferências magistrais,  o teclado do  computador (onde  produz  pérolas para o NYT) e oferecesse aquela aula de cidadania.

 Só existem problemas na Saúde porque as oposições - lideradas por FHC (o intelectual de punhos de renda) – acabaram com o CPMF, aquele  imposto sobre o cheque. É mero detalhe,  Lula e seus companheiros terem sido ferrenhos adversários da sua criação. O fato de  ter  maioria no Congresso na época da extinção, também quer parecer irrelevante.

Como um tsunami do bem, independente  da imprensa reacionária e golpista, ele vai voltar por cima da carne seca. Maior do que o analfabetismo, nem o câncer o derrotou.  Nos braços do povo, de regresso, rumo ao inelutável destino histórico, o socialismo/comunismo.

É fazer força para viver esse momento lindo.  Há que se libertar desse individualismo pequeno-burguês. Não é possível essa multiplicação de partidos. Nenhum país conseguiu sair da miséria com imprensa livre.  As notícias confundem as pessoas. Assim como partidos políticos. Está tudo errado. A internet está corrompendo nossa juventude. Ninguém lê Marx. Um absurdo!

O Partidão pensará por nós. Desta vez vai. Lula e seus amigos estão preparados para a missão... Ai dos  inimigos do povo (“elites”, canalhas, imprensa hegemônica e rancorosa, recalcitrantes pequeno-burgueses...). Há contas a acertar com os tribunais populares. Como diria Arlindo Chagas, “quem for podre que se quebre”.
Q

sábado, 20 de julho de 2013


UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA


ABISMO QUE CAVASTE COM TEUS PÉS
RONALD MENDONÇA
Médico e Membro da AAL

Num dado momento, pretendeu-se reformular o curso de medicina. Embora pouco inclinado a reuniões “de trabalho”, geralmente inócuas, ou – muito pior - de cartas marcadas, senti-me impelido a participar. Afinal era um dos coordenadores de disciplina. Com quase trinta e cinco anos de magistério permiti-me inferir que já estava meio tarde para começar a utilizar portfólios e outros que tais.
Três anos após ter me despedido e aberto caminho para novos talentos, continuo a pensar na medicina como ciência e arte. O filósofo Kant, a propósito, teria dito que a doutrina sem a experiência é nula enquanto a experiência sem o conhecimento é cega. Mestre Ib Gatto filosofava com os pés na terra ao repetir, em diversas ocasiões, que reconhecia no ensino e na aprendizagem da arte de Hipócrates três etapas: 1) Ver: 2) Ajudar; 3) Fazer. Fora disso é tentar reinventar a roda.
O fato é que das enjoadas reuniões chegou-se a conclusões geniais. Antes de tudo, pariu-se que o alvo da faculdade seria primordialmente formar cidadãos. Infere-se que Medicina que é bom, o cara pode até não aprender, mas jamais dali sairá um cidadão de segunda classe. (Isso foi dito e repetido várias vezes). Que adiantou nossa “rebeldia” e falar que a cidadania é um processo que começa intraútero e nunca está completamente construído, ainda que se viva 150 anos? Cidadania é apenas burnida na Academia com o exemplo dos mais antigos. Medicina e cidadania, é claro, não são excludentes. O que parece fora do lugar é a priorização do abstrato – muitas vezes carregada por mesquinhas desforras dos professores.
Não menos surpreendente foi a criativa ideia, até hoje em voga, de que as faculdades de medicina devem ter como objetivo formar cidadãos, digo, médicos, para o Sus. Na realidade, “para as necessidades do Sus”. É o estupro da Academia. Não lembro das vezes em que perguntei aos mentores dessas transformações se eles tinham vivências em tratar pacientes do Sus. Antecipo a resposta: “Paciente de Sus é bom no papel”.
Dispensável comentar cotas para gente sem méritos. Dez anos de imobilidade é prova inconteste da inépcia governamental. Nada mudou no ensino médio público, a um nível razoável, para competir com as escolas privadas. Se é que foi isso que motivou as cotas.
Submissa, a Ufal (não foi a única) ainda cederia às imposições dos companheiros ao deixar-se incluir no rol das federais para vestibular unificado, que tem o SISU como central de inscrição. A leniência revelar-se-ia particularmente cruel. Guardadas as proporções, não seria exagero afirmar que aluno de Alagoas estudando medicina na Famed é pé de cobra.
Acuada, antipatizada, sem credibilidade, Roussef, diz-se, treme de medo de novas vaias. A esperança é uma indulgência especial do papa Francisco para blindá-la da hipocrisia desses canalhas pequeno-burgueses. Fala-se até em conversão e confissão.
Inflação indócil, drogas e corrupção no meio da canela, desemprego... Cuba balançando... E as pessoas na rua... Com o fiasco da constituinte e do plebiscito, é taboa de salvação criar marola em torno de um tema. Dois anos a mais no curso médico é uma polêmica perfeita.
Se o projeto passar, não há de que se reclamar. É o abismo que vinhas cavando com os pés.

domingo, 14 de julho de 2013

O jegue do Galileu


UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA

O JEGUE DO GALILEU

RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL

O

Montado num jegue, em triunfal entrada em Jerusalém, segundo registra o ritual do catolicismo em episódio conhecido como “Domingo de Ramos, é difícil crer que uma semana após, o alvo dessas manifestações estaria no Calvário, literalmente pregado numa cruz, depois de comer o pão que o diabo amassou.
 Falo de Jesus Cristo, para muitos o Salvador, aquele que teria sido enviado pelo próprioDeus com a missão de resgatar-nos da imundície do pecado original.  Com tal compromisso,era previsível que a coisa descambasse para aquelas baixarias, onde rolaram grana,  beijos, traições, negações e até pungentes pedidos para que o cálice do sofrimento fosse afastado.
Mutatis mutandis, nossa meiga presidente passa por essa provação. Há bem pouco, vivia seu “Domingo de Ramos”, lua de mel refletida nos índices de aprovação popular lambendo oitenta por cento. Quase unanimidade, achava-se com direitos infinitos. Na obscuridade da planície, aos pobres mortais só chegavam os excessos temperamentaisde madame. Iracunda crônica, a gerentona notabilizar-se-ia pelo semblante carrancudo, riso de aeromoça, não obstante horas e horas de embonecamento milionário pagas a peso de ouro.
O esbanjamento era (ou é) a regra. Como se reprisasse o “último baile da Ilha Fiscal” – marco da queda de D. Pedro II – o fausto lhe fazia companhia em viagens internacionais. Na coroação do papa Francisco, por exemplo, malgrado a condição de ateia de carteirinha, espantaria o Velho Mundo em crise hospedando-se num dos hotéis mais caros do planeta. A compunção exigida pelo momento cederia lugar ao pândego, ao desperdício. Em vez do metafórico jegue do Galileu, tal uma Cleópatra, imaginou conseguir dobrar os joelhos dos romanos (e do mundo) com demonstrações de riqueza e pompa.
Abro parêntesis para dizer que “o último baile da Ilha Fiscal” também é revivido pela cara de pau do presidente da Câmara ao fazer farra com amigos num jato da FAB. Como ia dizendo, a economia (mal gerenciada pelos companheiros, é bom que se diga) começou a pipocar. Os “bilhões de dólares” da reserva, parece, não são suficientes para garantir os descalabros governamentais.
O inferno zodiacal dilmesco – ou o Monte das Oliveiras – seguindo a analogia do texto, teria seu início numa arena esportiva recém construída. Indignada com o absurdo valor da obra, os torcedores brindariam a presidente com uma humilhante vaia. Apupos que cruzaram o Atlântico e ressoaram no Velho Continente.Um vexame.
Nas manifestações das ruas, a incompetência oficial foi eviscerada. Saúde, educação, segurança, transporte, inflação, malversação do dinheiro público, corrupção em todos os níveis... O país apodreceu em dez anos. O grande responsável, Lula da Silva, escafedeu-se entalado no oco do mundo.
Sua antipática e medonha criação, antes temida – nunca foi amada, apenas tolerada – está acuada. Suas ideias fajutas surgem ao sabor das pressões. Plebiscito, constituinte, arremedos de médicos que não resistem a uma simplória provinha de revalidação...Tudo isso é motivo de profunda tristeza. O país mantem no posto de maior relevância uma figura sem empatia, sem afinidades com seu povo.

Até os aduladores de plantão estão batendo em retirada. Delineia-se melancólica a solidão institucional de madame. Por puro medo não encerrou a Copa das Confederações. Por fim, sairia de fininho, escorraçada, da reunião com os prefeitos. Nem eles temem mais a fúria da gerentona de palanque.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

OS OLHOS DE AVA GARDNER

OS OLHOS DE AVA GARDNER
Por: » RONALD MENDONÇA - médico e membro da AAL.
Dentre várias, leio numa sinopse sobre a atriz Ava Gardner que ela era, para Cocteau, “o animal mais belo do mundo”, enquanto que Hemingway a considerava “a essência da feminilidade”. Contudo, a pretensão não é de falar sobre a famosa atriz de olhos fulminantes.

Na realidade, volto a escrever sobre Bebedouro. Sonho, às vezes concretizado, dos adolescentes da minha geração, os olhos verdes de Ava Lavinia Gardner – seu nome de batismo – de repente tornaram-se uma realidade na comunidade bebedourense, lá pela década de 1950.

Naqueles dias, o bairro tentava superar a orfandade do major Bonifácio Silveira, o irrequieto festeiro falecido cerca de 10 anos antes. Timidamente, ensaiava-se viver sem a onipresença do major.

A chegado do novo pároco, padre Fernando Iório faria reviver o sacro sem perder o olho no mundano. O Natal seria revigorado com um animado pastoril. A Praça da Matriz recuperaria parte do prestígio, atraindo visitantes de outras plagas. Quermesses, cheganças, barquinhos, ondas, paus de sebo, fogos de artifício, tudo isso contribuiria para afugentar o marasmo.

Nas letras, uma promissora juventude criaria um espaço impresso com as publicações do O Idealista, tribuna que serviria de ponto de partida para os nascentes talentos. Foi lá que Hamilton Carneiro, Breno Mendonça, os irmãos Alves de Oliveira (Zé e Ary), dentre vários deslancharam com textos e poemas imorredouros.

Foi nesse cenário de renascimento que chegou ao bairro, mais precisamente na Rua Passos de Miranda, um jovem casal sem filhos: Sansão e Dalila. Não obstante o recato que as diferenças religiosas impunham (o casal frequentava a Igreja Batista), logo Sansão estava integrado, sobretudo como poeta e tradutor. Funcionário do Banco de Londres, apresentava-se como descendente torto de Henrique VIII.

Reservada, Dalila era loura, alta, um pouco estranha. O rosto marcante, meio quadrado e inolvidáveis olhos verdes. Certamente, por isso, Sansão a ela se referia como “a minha Gardner”. De fato, o olhar era de uma semelhança incrível. Já o homônimo do mito judaico era franzino, braços finíssimos, completamente calvo e avesso a querelas.

A notícia teria o efeito de uma bomba. Sansão e Dalila (Audálio) formavam um casal do mesmo gênero, masculino. Como chegou, sumiu. Consta ter sido transferido para o Rio ou S.Paulo, onde não havia a visibilidade de retrógrados arrebaldes.

Como diria Lula, o mundo só gira porque é redondo. Dalila foi vista na última passeata gay de S. Paulo. Enlaçada pela cintura por um sujeito com pinta de lutador de sumô, um pouco gasta, os olhos de Ava Gardner, no entanto, ali estavam, intocáveis e inconfundíveis

O MANCO DA LEVADA

O MANCO DA LEVADA




RONALD MENDONÇA
MÉDICO. MEMBRO DA AAL

A transferência dos pacientes do Santa Leopoldina para o Hospital Portugal Ramalho, no início da década de 50 do século anterior, marcaria a vida de algumas pessoas. O antigo nosocômio tinha cumprido sua missão.
Línguas ferinas – das quais nem o temido governador Silvestre Péricles escapava – asseguravam que o primeiro cliente seria o próprio chefe do executivo. É possível que os comentários guardassem uma certa coerência, posto que os impulsos de S. Exa. nem sempre eram enquadráveis num padrão razoável. Com efeito, aqueles que conviviam mais de perto tremiam com os rompantes governamentais, não obstante doce pendor para a poesia.
O fantasma do nazifascismo havia sido espantado, a ditadura Vargas chegara ao fim e a era dos Góis Monteiro começava a estertorar. Não era segredo para ninguém que Getúlio Vargas – até pender para o bloco dos aliados - flertara com Hitler, idílio que atingiria seu ápice com a extradição da lendária Olga Benário, grávida do mítico Carlos Prestes. Proclamada a paz, repartiu-se o mundo. Americanos e russos iniciavam a chamada guerra fria. Poucos sabiam o tamanho do genocídio de Lenin, Stalin, Beria etc.
Com todo esse caldo, não era difícil para os estudiosos da mente humana entenderem os diferentes tipos de delírios que passariam a povoar o universo psíquico dos pacientes. “Mensagens” cifradas eram recebidas através de imaginárias ondas de rádio (uma ferramenta em expansão), fortalezas aéreas sobrevoariam nossa recatada província e estudavam lançar bombas destruidoras... A dicotomia mundial invadiria a vida mental dos provincianos. Alguns sentiam-se vítimas de espionagem. Siglas de serviços secretos eram cochichadas. Uma bagaceira.
Com as limitações terapêuticas da época, a crônica psiquiátrica passaria a registrar os loucos dos bairros. Tipos populares, às vezes portadores de sobrenomes conhecidos, excêntricos, multiplicavam-se. Bebedouro tinha seus loucos bem identificados. Jaraguá, Ponta Grossa e Levada, bairros de intensa inquietação comercial, eram aquinhoados com razoável número de psicóticos.
Os mais antigos comentavam sobre as loucuras de um deficiente físico da Levada. Maldosamente, era conhecido como o “manco da Levada”. Na realidade era um amputado. Uma tragédia de infância: ao tentar escapar da fúria de um professor caíra de mau jeito... Antigo integralista, apaixonar-se-ia pelo comunismo. Interlocutor assíduo de Marx, tinha um canal aberto com Engels. Na maior parte das vezes, ficavam os três juntos em intermináveis papos. A estudantada do Liceu Alagoano adorava “vê-los” sentados nos bancos da Praça Deodoro.
Não se descuidava dos alvos: Rockfeller, Churchill e o governador Silvestre Péricles. Caligrafia inconfundível, era um porco ambulante. Emporcalhava as paredes da cidade com idiotices. No dia em que rabiscou abobrinhas sobre a mãe do governador, dizia-se, foi encontrado dentro de um saco, lambido pela maré da praia do Sobral. Estava arrebentado: um olho vazado, várias costelas partidas e a perna sadia com dupla fratura. Com voz inaudível, atribuiria o atentado aos americanos.
O destino do manco da Levada é tema de infindáveis debates. Para muitos, morrera de disenteria no Portugal Ramalho. Há quem garanta, no entanto, que teria findado gloriosamente como ministro da Economia de Stalin, sendo sepultado com honras militares. Seu inconfundível esqueleto mutilado, para sempre, jazeria ao lado do de Lenin

CÂNCER E CURANDEIRISMO


CÂNCER E CURANDEIROS

RONALD MENDONÇA

MÉDICO E MEMBRO DA AAL

Lê-se na coluna de Humberto Rosa e Silva que o ex-presidente Lula estaria com dificuldades com seu câncer de laringe. Há referências a abatimento físico e, de outras fontes, supostas metástases pulmonares. Talvez aí esteja a razão do mesquinho silêncio de Lula, justamente em momento de desafio para os petistas, sem qualquer dúvida, os principais causadores desse clima de desmando a que se chegou.

Desesperados, Lula e seus amigos, certamente decepcionados com a matéria, estariam apelando para o sobrenatural. No caso, a esperança de cura estaria nas mãos de um médium, um certo João de Abadiânia, em Goiás, cujo cartel de curas mata de inveja os pastores-curandeiros Valdomiro e RR Soares. Ou seja, se isso for verdade, dentro de alguns meses esperam-se mudanças no cenário político do país. A essa altura, Lula será mais uma estrela no céu. E uma doce lembrança.

A propósito, Thomaz Green Morton foi capa de revistas por supostos dons capazes de produzir curas extraordinárias, além  de diversas outras traquinagens, tendo um “Rá” como pilar vocal de suas inexplicáveis atuações. Um paranormal, um “sensitivo”, um espírito de luz que, por expressa vontade do Criador, pousou do Além entre nós, povo brasileiro, já tão beneficiado por essa plêiade de seres maravilhosos que habitam nossos palácios e casas legislativas.

TGM ganharia fama entre os alagoanos pelo menos em uma oportunidade. É que ele foi convocado para assistir ao nosso pranteado Teotônio Vilela (o pai), que, como todos sabem, acabou falecendo. Tudo indica que, não obstante o fracasso terapêutico, o velho senador teria se impressionado com as alegorias do farsante a ponto de cunhá-lo com a expressão, “latifundiário da energia”.

A falecida atriz Dina Sfat não teve o mesmo carinho. Ao descobrir-se com um nódulo maligno na mama, Dina recusaria os protocolos científicos da época, preferindo assumir o risco da cura esotérica. Foi vítima do engodo Green Morton, na verdade, mais uma vítima da criminosa atuação de um inescrupuloso, que do “nada” fazia surgir luzes e odores.

Há quem aponte o câncer como   “cruel”. Aliás, em suas dissertações informais, o próprio mestre Ib Gatto dizia que “o câncer não perdoa”. Entre a cancérea imperdonabilidade ou sua crueldade, o fato é que a doença, em Dina Sfat, teve a previsível inexorável evolução. Sem tratamento, não demorou em alastrar-se, instalando-se em outros órgãos. Ao perceber a fria que entrara, buscou   a ajuda médica. Era tarde.

Magoadíssima, seu longo depoimento publicado nas “Páginas Amarelas” da Veja foi um dramático libelo, um pungente ato de contrição da talentosa atriz. Num país mais sério teria levado muita gente para a cadeia, a começar pelo vigarista mágico curandeiro.

O país também está com câncer. As pessoas estão cobrando os remédios certos. Alheios à situação, os dirigentes não sabem o que fazer. Cegos em tiroteio. Pagando a exorbitância de mais de três mil reais para desembaraçar a cabeleira,  só se ouve dizer que Dilminha ficou brava, que gritou, que esfolou... Da manga, retira um plebiscito ridículo... Meu Deus, que coisa incompetente e desastrada!  Enquanto isso, o presidente da Câmara, Henrique Alves, faz piquenique aéreo com a família, por nossa conta. O que esperar desses curandeiros?