sexta-feira, 22 de março de 2013

O amor não pede licença ao mundo


RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL

É redundante reafirmar que o desmantelo do HGE é apenas ponta do iceberg, de um problema do tamanho do país.
Não sei se consola os alagoanos, mas, no período da matéria/denúncia da Gazeta de Alagoas, de domingo passado (17/03), as TVs exibiram o mesmo caos em hospitais de Minas Gerais. Na verdade, há um rodízio nas denúncias,  para diagnosticar o campeão dos piores, se Brasília, São Paulo, Recife, Fortaleza... Há quem garanta que não existe nada parecido com o HGE de Maceió. Folgadamente, o pior dos piores.
Há anos escrevo sobre esse tema. Discordo quando se tenta datar o desmantelo em 2007. Dá a impressão de que tudo corria maravilhosamente até então. A Saúde bombavaTempos bons (!?): os médicos ganhavam bem (?) e o sindicato achava o governo o máximo.
A ressalva não diminui a responsabilidade dos governantes. Na realidade o desmonte da Saúde começou lá atrás, meados dos anos 80, ainda na ditadura, moeda de troca, sindicalistas/sanitaristas aboletaram-se nas secretarias de Saúde. Cubanistas de carteirinha, sonhando com a Albânia, esses caras traziam na alma poços de mágoa.  
Um dos pontos altos dessas gestões foi a compra de uma carreta “fechada” de supositórios de glicerina... Em meio a grandes farras e memoráveis surubas desconstruiu-se impiedosamente a assistência hospitalar. Graças a Deus que restaram o Hospital Einstein e Sírio Libanês para devolverem voz, violão e tesão ao querido guru Luiz Inácio, o nosso São Jorge de Bordel.
Se o HGE superlotado é essa podridão, onde ratos, baratas, dejetos humanos e restos de membros dividem lençóis com pacientes, a raiz dos problemas atende pelo nome de SUS. Nada mais que uma sigla, o SUS humilha médicos e hospitais conveniados. Só suicidas (ou amigos do rei) aceitam transferir os doentes infectados do HGE.
Faltam verbas? Petrópolis chafurda por tríplice incúria: federal estadual e municipal. A síntese da Educação está no Enem. A Segurança é uma vergonha. Enquanto isso, nossa piedosa presidente está em Roma, numa Dolce Vita (só falta o Mastroiani). Ironia das ironias. Presente à posse de um papa que dá lições de humildade, profundo mistério ronda a recusa de Dilma para hospedar-se no prédio da Embaixada. Com seu séquito milionário conquista Roma, que cai de quatro diante de tanta ostentação. Luxo pago pelos usuários do SUS, como uma lânguida Cleópatra, deleita-se em boas companhias num dos 
hotéis mais  caros da Urbe. Curiosos e palpiteiros juram: quando o amor acontece não pede licença ao mundo.


sábado, 16 de março de 2013

Miserando atque eligendo



Miserando atque eligendo



Ronald Mendonça

Médico e membro da AAL






Soa inquestionável que os médicos cooperados da Unimed queriam que a atual diretoria permanecesse à frente da entidade para um segundo mandato. De fato, foi um desejo expresso nas urnas, em votação livre e secreta nesse dia 13/03. Certamente (espero), sem conchavos, negociatas espúrias, promessas de favorecimentos ou outros expedientes inconfessáveis, comuns em territórios alhures.

Sem baixarias, bolsa família, bolsa consulta, bolsa exame, injúrias, calúnias ou difamações, a lealdade do certame não deixa dúvidas sobre a maturidade da cooperativa. A verdade é que qualquer que fosse o eleito, estaríamos bem servidos. Nesse aspecto, não há perdedores. Não obstante, quer parecer imprescindível que a atual diretoria comece a preparar-se para voltar à planície, ao fim do mandato, entregando o bastão a um sucessor idôneo e capaz.

Perpetuar-se no poder é coisa de ditadura. Dois mandatos já estão de bom tamanho. É tempo suficiente para o sujeito gastar as idéias, exaurir a criatividade e esgotar a libido. Afinal, a Unimed não é uma Cuba, muito menos uma Venezuela. É pacífico que o poder vicia, embriaga e corrompe. Não vamos repetir erros. Tem gente por aí que não quer largar o osso, nem a pau. Se alguém fala em rodízio, alternância de poder, o sujeito vira uma fera. O único rodízio que ele aceita discutir é o de picanha...

De tudo, o que parece fundamental é que a Unimed não deve lidar com seus cooperados e associados como um plano de saúde comum, posto que eliminamos o espectro do intermediário. Com efeito, ao nos juntarmos numa cooperativa, elidimos Bradescos, Smiles e outras figuras que nos sugam e nos humilham.

Falo em eleições e já me lembro das bolsas esmolas que o governo federal espertamente distribui. Quem pode ser contra um pão que se doa a um faminto? Atire a primeira pedra quem não se sensibiliza com as sebentas cuias vazias seguras por trêmulas e esquálidas mãos estendidas nas portas dos restaurantes, nas calçadas das igrejas, nas esquinas e becos... Por isso a tolerância a esses óbulos eleitoreiros.

Habemus papam. A cadeira de Pedro está ocupada. Seu caduceu nas mãos de um consistente argentino. Francisco foi dissecado pela esquerda e pela direita. Pela frente e por trás, rostral e caudalmente. Como já se disse, mesmo agnóstico, é bom saber que atrás daquelas vidraças há um homem de vestes brancas preocupado com os costumes. Sempre haverá quem ande na linha apenas porque morre de medo das labaredas do inferno.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Miserando atque eligendo

Miserando atque eligendo 

Ronald Mendonça
Médico e membro da AAL


Soa inquestionável que os médicos cooperados da Unimed queriam que a atual diretoria permanecesse à frente da entidade para um segundo mandato. De fato, foi um desejo expresso nas urnas, em votação livre e secretanesse dia 13/02. Certamente (espero), sem conchavos,negociatas espúrias, promessas de favorecimentos ou outros expedientes inconfessáveis, comuns em territóriosalhures.
Sem baixarias, bolsa família, bolsa consulta, bolsa exame,injúrias, calúnias ou difamações, a lealdade do certame não deixa dúvidas sobre a maturidade da cooperativa. A verdade é que qualquer que fosse o eleito, estaríamos bem servidos. Nesse aspecto, não há perdedores. Não obstante, quer parecer imprescindível que a atual diretoria comece a preparar-se para voltar à planície, ao fim do mandato, entregando o bastão a um sucessor idôneo e capaz.
Perpetuar-se no poder é coisa de ditadura. Dois mandatos já estão de bom tamanho. É tempo suficiente para o sujeito gastar as idéias, exaurir a criatividade e esgotar a libido. Afinal, a Unimed não é uma Cuba, muito menos uma Venezuela. O poder vicia, embriaga e corrompe. Não vamos repetir erros. Tem gente por aí que não quer largar o osso, nem a pau. Se alguém fala em rodízio de poder, o sujeito vira uma fera. O único rodízio que ele aceitadiscutir é o de  picanha...
De tudo, o que parece fundamental é que a Unimed nãodeve lidar com seus cooperados e associados como umplano de saúde comum, posto que eliminamos o espectrodo intermediário. Com efeito, ao  nos juntarmos numa cooperativa, elidimos Bradescos, Smiles e outras figuras que nos sugam e nos humilham.
Falo em eleições e já me lembro dos bolsas esmolas que o governo federal espertamente distribui. Quem pode ser contra um pão que se doa a um faminto? Atire a primeira pedra quem não se sensibiliza com as sebentas cuias vazias seguras por trêmulas e esquálidas mãos estendidasnas portas dos restaurantes, nas calçadas das igrejas, nas esquinas e becos... Por isso a tolerância a esses óbulos eleitoreiros.
Habemus papam. A cadeira de Pedro está ocupada. Seu caduceu nas mãos de um consistente argentino. Franciscofoi dissecado pela esquerda e pela direita. Pela frente e por trás, rostral e caudalmente. Como já se disse, mesmo agnóstico, é bom saber que atrás daquelas vidraças há um homem de vestes brancas preocupado com os costumes.Sempre haverá quem  ande na linha porque morre de medo das labaredas do inferno.


sexta-feira, 8 de março de 2013

Nove de março

NOVE DE MARÇO
Por: » RONALD MENDONÇA – médico e membro da AAL.
Vítima de assalto numa padaria, o jornalista Joaldo Cavalcante, em contundente artigo, responsabilizou o atual governador pela precária situação da Segurança Pública de Alagoas. De fato, sem falsas modéstias, repetidas pesquisas vêm demonstrando como temos evoluído desde o ano 2000. Hoje, disputamos pau a pau a liderança desse ranking. Há 13 anos, eram modestas 25 mortes por cem mil habitantes. Em 2006, conseguimos atingir entre 50 e 56 mortes por cem mil. Hoje, nossa marca supera as 60!

Não é difícil inferir que o país está comandado por facínoras e à mercê de facções de todos os credos. São Paulo, mesmo, que até o ano passado brandia dados escandinavos, apenas nesses dois primeiros meses viu dobrarem os crimes de morte. A Bahia é caso sem jeito, e até a pacata Florianópolis vive tempos de horror. Vitória, Recife e Fortaleza têm índices medonhos. Sem falar no Rio de Janeiro, pai e mãe do banditismo.

Alagoas nunca foi um lago de mansas águas. Em novembro de 1999, nossos filhos Lavínea e Ronald (que neste 09 de março completaria 36 anos), de 28 e 22 anos na época, foram friamente mortos por um empregado da casa. Latrocínio premeditado e covarde. Roninho, estudante de Direito e professor de inglês, diariamente dava carona ao criminoso. Não há como deixar de registrar o repúdio pela fala mentirosa, desonesta até, do defensor público por tentar denegrir a memória dos filhos mortos.

Não foi o único a querer aparecer. Um desconhecido marxista delirante achou-se no direito de nos admoestar. Por cartas, pedia-nos resignação. Segundo ele, fomos alvos da inexorável marcha da história que, como sabem, tem o comunismo como destino final. Ali era o retorno da luta de classes, em estado larvar desde o melancólico esfarelamento das ditaduras comunistas. O assassino seria, por essa via, algo como um agente do proletariado. Um guerrilheiro a serviço do stalinismo.

Várias vezes levantamos a suspeita de que houve participação de mais pessoas no momento dos crimes. Ficou claríssimo que uma inescrupulosa ex-patroa receptava objetos e valores roubados da minha casa pelo bandido. O tempo nos convenceu de que essa escroque era uma das únicas pessoas no mundo em condições de salvar nossos filhos. Fechando o círculo macabro, as vidas da Lavínea e do Roninho estiveram também nas mãos de uma loja de armas e de um soldado do Exército, que, criminosamente, forneceram arma e munição. 

quinta-feira, 7 de março de 2013

RENÚNCIAS DESGOSTOS QUE NÃO TÊM REMÉDIOS

RENÚNCIAS, DESGOSTOS QUE NÃO TÊM REMÉDIOS





RONALD MENDONÇA –

médico e membro da AAL.


Ao renunciar à Presidência da República, em 1961, poucos meses depois de assumir, o imprevisível Jânio da Silva Quadros provocaria uma diabólica crise institucional. Finalmente, um meio termo seria encontrado: João Goulart, vice e natural substituto, assumiria num transitório parlamentarismo meia-boca. Um golpe militar, em 1964, detonaria o mandato do anfótero Jango.

O que parecia ser a duração de uma ressaca de agosto, a aventura castrense se estenderia por longos 21 anos, até o ladino Zé Sarney, por vias tortas, assumir. Seu sucessor, após impor, na primeira eleição direta pós-ditadura, acachapante derrota ao adversário, renunciaria na metade do mandato. Quartéis emudecidos, a Constituição prevaleceu e o vice, Itamar, tomou posse sem sustos. Mas isso é outra história.

A vida é feita de renúncias, muitas vezes provocando desgostos que não têm remédios. Direito garantido até pela Carta Magna, a não ser nas ditaduras, abrir mão de cargos deveria ser considerado normal.

Mesmo tratando-se de um déspota, como é o caso do nosso Fidel I, que anos atrás abdicou em favor de seu irmãozinho caçula. Ainda que seja um papa, tal qual tem-se hoje com a desistência de Bento 16.

Abro parêntese para dizer que ao perder um tirano, Cuba ganhou um progressista deputado. É que Fidel Castro foi eleito e ninguém sabia. Pelo frisson que sua augusta presença causou, no conclave de aclamação de Raulzito, conclui-se que o ex-ditador é tão faltoso quanto boa parte dos seus eminentes colegas brasileiros.

É possível que (como ocorre no parlamento brasileiro) os compromissos de Castro com a na Câmara cubana sejam substituídos pelas clássicas visitas aos eleitores. Atire a primeira pedra aquele que nunca precisou de uma mão amiga em inopinados funerais de parentes; no inesperado parto de uma filha; na recomposição de um muro fustigado pelos temíveis ciclones tropicais... De uma ajudinha em prosaicas passagens para Miami, ou até para o Brasil. Afinal, eleitores carentes e políticos magnânimos são encontradiços em qualquer parte do mundo. Talvez alguém possa até informar se em Cuba existe a avançada lei social que assegura 14º e 15º salários aos dedicados parlamentares brasileiros.

A tristeza está roendo. Chora a pátria mãe gentil. Choram Marias e Clarisses. Não é para menos. Aconteceu o que todos temiam. Decepcionado, ele não voltará. Se já não bastassem as perdas de Zé Dirceu, Palocci e outros, a nação terá que conviver com a terrível ausência do deputado Tiririca."