segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A CONTROVERSA MILHARINA HUMANA

Enquanto acompanhava o levantar das paredes de uma casa, que num futuro abrigaria a família, perdia horas observando o desenrolar do trabalho pedreiro. Ainda jovem, sol a pino, quarentão, no início sem ter sequer onde sentar, deixava-me levar pelo vagar do pensamento. O corpo presente, a alma viajante.
Antevia-me ali com os filhos, naquela época uma adolescente e mais dois meninos, a desfrutarmos daquele esforço, resultado de economias de 20 anos de duplo exercício profissional: de minha esposa e meu, ambos médicos. O sonho do pequeno burguês de Bebedouro, “do insensível membro da elite médica” (na expressão pseudônima), estava literalmente se concretizando.
Ao observar o áspero labor, às vezes me lembrava da história meio piegas sobre três pedreiros, contratados para erguer um templo. Interrogados sobre o que faziam, o primeiro disse “bater tijolos”; o segundo, “levantar paredes”, enquanto o terceiro assegurou “estar construindo uma catedral”.Ocasiões diversas, ao dialogar com o mestre de obras, ria-me sozinho ao recordar de outra história relatada pelo engenheiro José Augusto. Referia-se a um outro mestre de obras, que descobrira a infidelidade da caliente esposa – e, não obstante os comentários impiedosos ( e os cruéis adjetivos) do canteiro de obras – apesar da ferida narcísica, revelar-se-ia magnânimo, devolvendo com perdões as recalcitrantes fraquezas carnais da mulher. Inquirido pelo indignado engenheiro, responderia com enigmática sentença: “Doutô, cada um sabe o que pissui”.
Quem também tem se mostrado dadivosa é a presidenta Dilma. Degolados (após denúncias), logo no primeiro ano de governo, oito ministros, sete por indigência moral, eis que o ministro Pimentel “Oscar”, acusado de assistir espiritualmente os desprezíveis capitalistas mineiros, teve suas culpas natalinamente absolvidas pela terna dama.Quanto a Bezerra Coelho, o chauvinista pernambucano, mesmo sem ser vaca, estaria em vias do brejo. Fazer o quê se os flagelados do vizinho Estado têm mais cacife de que os de Alagoas?
Volto às construções. Martiniano era o meu fornecedor de barro (“traço”). Homem idoso, irredutível no preço, admirava seu esforço e, sobretudo, o senso de humor. Um velho caminhão garantia-lhe a subsistência. Diariamente, dava duas, três voltas em Paripueira retornando carregado. Garantia-me que eram seis metros. Tinha orgulho da pureza do material, ao qual, gargalhando, chamava de milharina

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