Meses atrás, num sinal de grande atrevimento, preenchi ficha de inscrição para candidato a sócio da AAL, na vaga de d. Fernando Iório, um dos mais destacados membros do clero brasileiro, além de impecável intelectual. A ousadia foi premiada, tendo tomado posse em 6 de dezembro último.
Ainda inebriado pela glória da convivência no Templo da Cultura Alagoana, recordo um trecho do pronunciamento em que referi ter escrito contos, mas que meu trabalho literário era concentrado em textos para a Gazeta de Alagoas, publicados aos sábados, nessa página. Foram cerca de seiscentos artigos nesses últimos 14 anos, sobre as mazelas que nos cercam. Ouço dizer que são comentados, o que significa que mais de onze leitores, além da família, desperdiçam seu precioso tempo com baboseiras.
Mas o que queria dizer é que nada, absolutamente nada, mudou, numa confirmação meio às avessas do postulado de Lavoisier.Deus me livre de ser infectado pelo vírus do pessimismo. A essa altura da vida, seria fatal.
Por isso, tenho acreditado na luta dos anestesistas, essa imprescindível especialidade, muitas vezes mágica, que transforma dores em sorrisos – sobretudo quando usava o gás hilariante como agente anestésico.
O que querem os anestesistas alagoanos? Em vias de cruzarem os braços, as pretensões não são recentes nem isoladas. São reivindicações que interessam a toda a classe médica, que está exaurida de ser humilhada pelo SUS e pelos planos de saúde. Nossos governantes fingem não saber que a vida humana é a mesma, se de Lula e Dilma ou dos ferrados da sorte. Se ricos ou mendigos, temos os mesmos compromissos éticos e também os mesmos ônus civis. Num país em que se acha justo pagar um milhão de reais (ou mais!) por quilômetro de uma estrada onde todos circulam, não há argumentos para pagar mal a médicos e hospitais do SUS, só pelo fato de lidarmos com a “massa ignara”.
O SUS está longe do “universal” que se diz. Muito menos do “equânime”. Em Pernambuco, o famigerado paga ao anestesista oitenta e oito reais por uma curetagem; em Alagoas, o mesmo procedimento vale vinte e um! Afinal, se no Recife tem, por que a gente não tem?
O fato é que esses socialistoides, que há anos beiçam as tetas do Ministério da Saúde – desde Fernando Henrique –, acham, por exemplo, que os aumentos dos encargos hospitalares (impostos, salários, inflação, etc.) não justificam majoração anual no valor de honorários médicos e diárias. Nesse setor, há anos, nada evolui
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
A CONTROVERSA MILHARINA HUMANA
Enquanto acompanhava o levantar das paredes de uma casa, que num futuro abrigaria a família, perdia horas observando o desenrolar do trabalho pedreiro. Ainda jovem, sol a pino, quarentão, no início sem ter sequer onde sentar, deixava-me levar pelo vagar do pensamento. O corpo presente, a alma viajante.
Antevia-me ali com os filhos, naquela época uma adolescente e mais dois meninos, a desfrutarmos daquele esforço, resultado de economias de 20 anos de duplo exercício profissional: de minha esposa e meu, ambos médicos. O sonho do pequeno burguês de Bebedouro, “do insensível membro da elite médica” (na expressão pseudônima), estava literalmente se concretizando.
Ao observar o áspero labor, às vezes me lembrava da história meio piegas sobre três pedreiros, contratados para erguer um templo. Interrogados sobre o que faziam, o primeiro disse “bater tijolos”; o segundo, “levantar paredes”, enquanto o terceiro assegurou “estar construindo uma catedral”.Ocasiões diversas, ao dialogar com o mestre de obras, ria-me sozinho ao recordar de outra história relatada pelo engenheiro José Augusto. Referia-se a um outro mestre de obras, que descobrira a infidelidade da caliente esposa – e, não obstante os comentários impiedosos ( e os cruéis adjetivos) do canteiro de obras – apesar da ferida narcísica, revelar-se-ia magnânimo, devolvendo com perdões as recalcitrantes fraquezas carnais da mulher. Inquirido pelo indignado engenheiro, responderia com enigmática sentença: “Doutô, cada um sabe o que pissui”.
Quem também tem se mostrado dadivosa é a presidenta Dilma. Degolados (após denúncias), logo no primeiro ano de governo, oito ministros, sete por indigência moral, eis que o ministro Pimentel “Oscar”, acusado de assistir espiritualmente os desprezíveis capitalistas mineiros, teve suas culpas natalinamente absolvidas pela terna dama.Quanto a Bezerra Coelho, o chauvinista pernambucano, mesmo sem ser vaca, estaria em vias do brejo. Fazer o quê se os flagelados do vizinho Estado têm mais cacife de que os de Alagoas?
Volto às construções. Martiniano era o meu fornecedor de barro (“traço”). Homem idoso, irredutível no preço, admirava seu esforço e, sobretudo, o senso de humor. Um velho caminhão garantia-lhe a subsistência. Diariamente, dava duas, três voltas em Paripueira retornando carregado. Garantia-me que eram seis metros. Tinha orgulho da pureza do material, ao qual, gargalhando, chamava de milharina
Antevia-me ali com os filhos, naquela época uma adolescente e mais dois meninos, a desfrutarmos daquele esforço, resultado de economias de 20 anos de duplo exercício profissional: de minha esposa e meu, ambos médicos. O sonho do pequeno burguês de Bebedouro, “do insensível membro da elite médica” (na expressão pseudônima), estava literalmente se concretizando.
Ao observar o áspero labor, às vezes me lembrava da história meio piegas sobre três pedreiros, contratados para erguer um templo. Interrogados sobre o que faziam, o primeiro disse “bater tijolos”; o segundo, “levantar paredes”, enquanto o terceiro assegurou “estar construindo uma catedral”.Ocasiões diversas, ao dialogar com o mestre de obras, ria-me sozinho ao recordar de outra história relatada pelo engenheiro José Augusto. Referia-se a um outro mestre de obras, que descobrira a infidelidade da caliente esposa – e, não obstante os comentários impiedosos ( e os cruéis adjetivos) do canteiro de obras – apesar da ferida narcísica, revelar-se-ia magnânimo, devolvendo com perdões as recalcitrantes fraquezas carnais da mulher. Inquirido pelo indignado engenheiro, responderia com enigmática sentença: “Doutô, cada um sabe o que pissui”.
Quem também tem se mostrado dadivosa é a presidenta Dilma. Degolados (após denúncias), logo no primeiro ano de governo, oito ministros, sete por indigência moral, eis que o ministro Pimentel “Oscar”, acusado de assistir espiritualmente os desprezíveis capitalistas mineiros, teve suas culpas natalinamente absolvidas pela terna dama.Quanto a Bezerra Coelho, o chauvinista pernambucano, mesmo sem ser vaca, estaria em vias do brejo. Fazer o quê se os flagelados do vizinho Estado têm mais cacife de que os de Alagoas?
Volto às construções. Martiniano era o meu fornecedor de barro (“traço”). Homem idoso, irredutível no preço, admirava seu esforço e, sobretudo, o senso de humor. Um velho caminhão garantia-lhe a subsistência. Diariamente, dava duas, três voltas em Paripueira retornando carregado. Garantia-me que eram seis metros. Tinha orgulho da pureza do material, ao qual, gargalhando, chamava de milharina
A GLÓRIA QUE ESPREITA E NAUFRAGA
O naufrágio do Costa Concordia, portentosa nave sinistrada durante prosaico passeio pelo Mediterrâneo, nos remete a outros monumentos da tecnologia, o Titanic e o Airbus da Air France, igualmente vítimas da soberba e da incúria.
É possível que daqui a 90 anos algum gênio da cinematografia crie uma comovente história de amor, semelhante àquela dos adolescentes Rose e Jack, personagens de Titanic. Quem sabe, na dobrada do século 22, será encenado o romance de um piloto de transatlântico apaixonado por um ilhéu de Giglio, por coincidência garçom da embarcação. Certamente um glamouroso enredo com todos os ingredientes das arrebatadas paixões, desde as imorredouras promessas de amor, passando por triângulo amoroso, até um dos mais mesquinhos dos sentimentos: o ciúme. Tudo culminando com malfadada colisão em milenares rochas, que só o desastrado comandante não viu.
Falemos de alegria. Sim, porque a pequenina Alagoas vive momentos gozosos. Parodiando, posso dizer que nunca dantes nosso Estado teve tanta intimidade com a gloria. Afinal é o que fica, honra, eleva e consola. Disputadíssima, nossa Faculdade de Medicina, uma das “joias da coroa” da não menos gloriosa Ufal, mostrou serviço nesse exame do Enem.
Para os leitores mais jovens, repito que nossa Famed foi fundada há seis décadas. A antiga Faculdade de Medicina cumpriu seu objetivo de formar bons médicos, na maioria alagoanos. Em 1960 integrou-se à Ufal e continuou a prover as comunidades alagoana e brasileira de profissionais respeitados. Hoje, “uma referência nacional”, optou como meta o ensino da “Cidadania”, subtraindo horas de disciplinas “menos importantes” como Anatomia, Semiologia, Patologia etc.Estava a dizer que a Ufal se superou. Hoje, o país inteiro prosterna-se diante desse santuário do ensino. Foram mais de cem mil inscrições do SISU, para preencher modestas seis mil vagas. Que importa se o longínquo Piauí ferve com número maior de inscrições?
Quase esquecia de comentar que as vagas para os nossas “joias” foram ocupadas por candidatos de outros Estados. Aqui inscritos, não na bacia das almas porque descartados por universidades melhores, mas, sobretudo, por terem sido atraídos pelas nossas excelsas qualidades. É mero detalhe a rala presença de alagoanos nas listas dos classificados. Na Catedral da Cidadania (a Famed), por exemplo, das oitenta disponíveis, triunfalmente emplacamos oito.
É possível que daqui a 90 anos algum gênio da cinematografia crie uma comovente história de amor, semelhante àquela dos adolescentes Rose e Jack, personagens de Titanic. Quem sabe, na dobrada do século 22, será encenado o romance de um piloto de transatlântico apaixonado por um ilhéu de Giglio, por coincidência garçom da embarcação. Certamente um glamouroso enredo com todos os ingredientes das arrebatadas paixões, desde as imorredouras promessas de amor, passando por triângulo amoroso, até um dos mais mesquinhos dos sentimentos: o ciúme. Tudo culminando com malfadada colisão em milenares rochas, que só o desastrado comandante não viu.
Falemos de alegria. Sim, porque a pequenina Alagoas vive momentos gozosos. Parodiando, posso dizer que nunca dantes nosso Estado teve tanta intimidade com a gloria. Afinal é o que fica, honra, eleva e consola. Disputadíssima, nossa Faculdade de Medicina, uma das “joias da coroa” da não menos gloriosa Ufal, mostrou serviço nesse exame do Enem.
Para os leitores mais jovens, repito que nossa Famed foi fundada há seis décadas. A antiga Faculdade de Medicina cumpriu seu objetivo de formar bons médicos, na maioria alagoanos. Em 1960 integrou-se à Ufal e continuou a prover as comunidades alagoana e brasileira de profissionais respeitados. Hoje, “uma referência nacional”, optou como meta o ensino da “Cidadania”, subtraindo horas de disciplinas “menos importantes” como Anatomia, Semiologia, Patologia etc.Estava a dizer que a Ufal se superou. Hoje, o país inteiro prosterna-se diante desse santuário do ensino. Foram mais de cem mil inscrições do SISU, para preencher modestas seis mil vagas. Que importa se o longínquo Piauí ferve com número maior de inscrições?
Quase esquecia de comentar que as vagas para os nossas “joias” foram ocupadas por candidatos de outros Estados. Aqui inscritos, não na bacia das almas porque descartados por universidades melhores, mas, sobretudo, por terem sido atraídos pelas nossas excelsas qualidades. É mero detalhe a rala presença de alagoanos nas listas dos classificados. Na Catedral da Cidadania (a Famed), por exemplo, das oitenta disponíveis, triunfalmente emplacamos oito.
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