segunda-feira, 9 de maio de 2011

VOLTANDO A SER FELIZ

Esta semana, os amigos da consagrada Vera Romariz e os leitores do blog do Carlito Lima receberam um brinde especial em forma de primoroso texto, modestamente denominado pela autora – a própria Vera – de “Crônica meio chata”.
Há alguns meses, as pessoas mais próximas de Vera ficaram dolorosamente assustadas pela notícia da alternativa de um tumor maligno em uma das suas mamas. Enfim comprovado, a sensação foi de imensa tristeza para nós outros. Somente uma pessoa mostrava-se efetivamente confiante: a paciente. Com efeito, a imortal, desde o primeiro instante, tem injetado força e enchido de “moral” seus familiares e amigos.
Indo a ela no “Monte das Oliveiras”, muitas vezes chegamos cabisbaixos e o simples contato com esta grande mulher nos reconforta. Sem pretender empunhar bandeiras, sua garra mansa, sua resiliência faz-nos sentir vergonha por valorizarmos transitórias agruras pessoais. Por tudo, mais a admiramos e amamos. Tomei a liberdade de transcrever parte desta oração de fé e otimismo:
“Em novembro tive um diagnóstico de uma neoplasia no seio: traduzindo, tratava-se de um câncer de mama. Nunca fumei, nunca bebi, não fiz reposição hormonal para (ironia das ironias) evitar o câncer, que chegou como um vendaval.”
“Ele veio; como um visitante inoportuno, instalou-se em minha casa um mês depois que fiz uma festa para amigos próximos, comemorando a alegria de ter alcançado (pensava eu) feliz e saudável os 60 anos. Entrou em meu cotidiano sem pedir licença, adiou sonhos, assustou o companheiro e comoveu os filhos que vieram de longe acompanhar minha luta ainda em curso.”
“O que aprendi nessa via crucis moderna? A consolidar a humildade e a não esconder a verdade: o cansaço proveniente das sessões de químio me ensinou, a contragosto, a andar devagar, a pedir ajuda, a dizer claramente que tinha câncer, que estava em tratamento, quando precisava enfrentar uma fila inevitável.”
“Julgo que o câncer me tornou uma pessoa melhor; mas, cá entre nós, que curso duríssimo! Agora, reinicio lentamente a fazer pequenos planos: ir a Salvador, cidade que amo e onde estão dois filhos e quatro netos; a Buenos Aires, talvez; à Europa, sempre que puder.”
“Enfim, aprendi que o câncer não arrancou de minha existência o que considero meu maior legado: a escrita, os meus, e –enfim- eu mesma. Provisoriamente careca; a duras penas tentando voltar a ser feliz.”
(*) É médico.

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