sábado, 14 de maio de 2011

AS CAUSAS DE CADA UM

Continua uma espécie de guerra entre os planos de saúde e os médicos credenciados. São aviltantes os honorários pagos aos profissionais, desde a básica consulta até uma complexa cirurgia. Ao longo dos últimos anos, a majoração dos valores cobrados aos usuários de planos excede em muito o reajuste repassado aos médicos. A novidade é a intervenção da Secretaria de Direito Econômico (SDE), órgão do governo, que pretende silenciar as entidades médicas, aparentemente fazendo o jogo dos planos...Aguardemos a palavra da Justiça.
Nem só das agruras da Medicina vive o homem. Leio nesta Gazeta de sexta, 13, que o nosso amado ex-presidente Lula marcou presença, em conferência de quarenta minutos, na sede da cervejaria AmBev, aqui no Nordeste. Segundo a matéria, teria sido uma presença não anunciada com antecedência, justamente para surpreender os participantes. Por um razoável cachê de supostos duzentos mil, preço médio das magistrais conferências lulianas, deve ter sido muito proveitoso para os participantes aprenderem com este mito.
Não devo nem falar sobre o proverbial conhecimento prático, como apreciador de louras geladas (além das lapadas da “branquinha”), tema dissecado pela imprensa golpista e burguesa. Mas o que será que diria nosso ex a administradores sobre controle de empresas, quando no governo do conferencista um escândalo da proporção de um mensalão estava a um palmo do seu nariz, e ele sequer desconfiava? Por outro lado, não se pode desprezar seu faro empresarial. Lulinha Júnior, certamente sob sua orientação, teria evoluído de porteiro de zoológico a megaempresário, em menos de um mandato. Não foi à toa que o próprio pai, num comovente rasgo de derretimento o denominou do “nosso Bill Gates”. Que Lula faça jus ao merecido título coimbrense de Professor Honoris Causa da secular universidade!
Por fim, gostaria de me solidarizar com o alagoano Aldo Rebelo, mais uma vítima da mesquinhez do que se chama imprensa hegemônica, fascista, rancorosa, reacionária e sei mais o quê.
Relator do projeto do complicado Código Florestal, nosso comunista cristão tem desagradado a todos. O mais cruel de tudo foi a imensa ingratidão da ex-senadora Marina Silva. Sim, Marina Morena, cujo marido traquinava (segundo o próprio Aldo) com madeira, tem uma dívida impagável com o nosso herói. Líder do governo na Câmara, num ato extrema de generosidade e de coragem cívica, arriscaria o prestígio e a honra para livrar o demolidor da Amazônia de uma exposição pública.

segunda-feira, 9 de maio de 2011


RONALD MENDONÇA LANÇA MAIS UM LIVRO

Foto de Carolina Lima


Maior sucesso literário do ano. O escritor Ronald Mendonça lançou o livro JANELA DE VIDRO na Casa da Palavra de Ricardo Nogueira, com a apresentação de Vera Romariz e Abynadá Lyro. Ronald mostrou prestígio, mais de 400 pessoas compareceram ao lançamento, recorde de venda. Médico querido na comunidade alagoana, é hoje, sem dúvida, o melhor cronista da cidade. Intelectual corajoso, de convicções inabaláveis, seus escritos são inteligentes; com muita malícia e às vezes sarcasmo escreve crônicas imperdíveis aos sábados na Gazeta. No futuro quem quiser saber dos costumes da vida da sociedade nos séculos XX e XXI tem que pesquisar o escritor Ronald Mendonça..

VOLTANDO A SER FELIZ

Esta semana, os amigos da consagrada Vera Romariz e os leitores do blog do Carlito Lima receberam um brinde especial em forma de primoroso texto, modestamente denominado pela autora – a própria Vera – de “Crônica meio chata”.
Há alguns meses, as pessoas mais próximas de Vera ficaram dolorosamente assustadas pela notícia da alternativa de um tumor maligno em uma das suas mamas. Enfim comprovado, a sensação foi de imensa tristeza para nós outros. Somente uma pessoa mostrava-se efetivamente confiante: a paciente. Com efeito, a imortal, desde o primeiro instante, tem injetado força e enchido de “moral” seus familiares e amigos.
Indo a ela no “Monte das Oliveiras”, muitas vezes chegamos cabisbaixos e o simples contato com esta grande mulher nos reconforta. Sem pretender empunhar bandeiras, sua garra mansa, sua resiliência faz-nos sentir vergonha por valorizarmos transitórias agruras pessoais. Por tudo, mais a admiramos e amamos. Tomei a liberdade de transcrever parte desta oração de fé e otimismo:
“Em novembro tive um diagnóstico de uma neoplasia no seio: traduzindo, tratava-se de um câncer de mama. Nunca fumei, nunca bebi, não fiz reposição hormonal para (ironia das ironias) evitar o câncer, que chegou como um vendaval.”
“Ele veio; como um visitante inoportuno, instalou-se em minha casa um mês depois que fiz uma festa para amigos próximos, comemorando a alegria de ter alcançado (pensava eu) feliz e saudável os 60 anos. Entrou em meu cotidiano sem pedir licença, adiou sonhos, assustou o companheiro e comoveu os filhos que vieram de longe acompanhar minha luta ainda em curso.”
“O que aprendi nessa via crucis moderna? A consolidar a humildade e a não esconder a verdade: o cansaço proveniente das sessões de químio me ensinou, a contragosto, a andar devagar, a pedir ajuda, a dizer claramente que tinha câncer, que estava em tratamento, quando precisava enfrentar uma fila inevitável.”
“Julgo que o câncer me tornou uma pessoa melhor; mas, cá entre nós, que curso duríssimo! Agora, reinicio lentamente a fazer pequenos planos: ir a Salvador, cidade que amo e onde estão dois filhos e quatro netos; a Buenos Aires, talvez; à Europa, sempre que puder.”
“Enfim, aprendi que o câncer não arrancou de minha existência o que considero meu maior legado: a escrita, os meus, e –enfim- eu mesma. Provisoriamente careca; a duras penas tentando voltar a ser feliz.”
(*) É médico.

PLANTÃO MÉDICO

Nos últimos cinco anos, cumpro percurso que dura cerca de duas horas até o meu destino. Vou à progressista Arapiraca honrar compromisso acordado com o Estado de Alagoas. Encaro uma rodovia razoavelmente conservada e até me dou ao luxo de acompanhar as obras de duplicação para a Barra de São Miguel, por sinal, passando por um aparente processo de arrefecimento no seu ritmo.
Assumi um plantão semanal sem nada assinado: a mim cabia atender os pacientes com o capital de mais de trinta anos de vivência neurocirúrgica. Ao gestor, o inalienável dever de remunerar-me pelo trabalho. Simples assim. Dolorosamente, muitas vezes pensei em chutar o pau da barraca por uma questão singularíssima: o patrão não cumpre a sua parte e atrasa o pagamento além do aceitável.
Com o olhar numa remuneração menos aviltante, os neurocirurgiões alagoanos organizaram-se em torno de uma cooperativa, até para se ter uma relativa segurança. Ainda assim, os atrasos nos pagamentos se repetem. Como num vício, persisto acreditando nas boas intenções desses caras e sigo em frente.
Falando de médicos e de medicina, esta semana a comunidade alagoana teve motivos para se orgulhar. É que a quase bicentenária Santa Casa de Misericórdia de Maceió realizou seu tradicional Congresso Médico. Tendo como tema central dedicado à Geriatria, dezenas de conferências e mesas redondas de expressivas consistências científicas marcaram o encontro. Apropriadamente, o reumatologista João Palmeira denominou o conclave como o mais importante das Alagoas.
Volto à UE de Arapiraca. Impregnado pelo noticiário da morte de Osama Bin Laden pretendo saber a opinião dos colegas. Não há unanimidade. Alguns acham que Bin Laden era tão inocente em relação ao fatídico e histórico 11 de setembro, quanto seria o meu neto Caio (que, coincidentemente, nasceu naquele exato dia). Para esses, foi o próprio Bush o autor da tragédia.
Outros gostariam de ver Osama em lenta agonia, sob medievais suplícios, de preferência meses a fio. Nesse aspecto, o tiro mortal teria sido um prêmio. Para os partidários dos Direitos Humanos, o terrorista deveria ter amplo direito de defesa e aguardar o julgamento em casa. Fazer o quê se bons advogados e a lassitude das leis garantem a postergação do julgamento?
A grande verdade é que meus colegas estavam mesmo de olho na decisão do Supremo sobre a legalização das relações homoafetivas. Finalmente favorável, o clima entre alguns foi de perspectivas de memoráveis comemorações.

UMA BACTÉRIA DO BARULHO

Leio nas folhas que as empreiteiras querem reajustar valores para obras públicas. Com a competência dos grandes lobistas, certamente conseguirão atingir seus objetivos. À boca larga, há um claro entendimento da participação de parlamentares nessas reivindicações, nem sempre movidas por espírito patriótico. Explicando melhor: nobres parlamentares não passariam de lobistas de empreiteiras de olho em gordas comissões. Muitos deles seriam esforçados sócios de construtoras. De qualquer forma, visam o enriquecimento pessoal/familiar. É possível que aí resida o “segredo” do sucesso financeiro de tantos e tantos legisladores País afora.
Às portas de uma Copa do Mundo, com obras gigantescas em atraso, as empreiteiras e seus influentes lobistas, mais do que nunca, “dão as cartas e jogam de mão”, como se dizia antigamente. Existem obras ainda no papel e já se fala em majoração de preços – como é o caso do trem-bala de São Paulo. Uma mina de diamantes. A transposição do São Francisco é outra boquinha maravilhosa...
Mas o que seria do Brasil sem esses fantásticos lobistas e o apadrinhamento de parlamentares? Com certeza se os preços das obras fossem justos, um centímetro de asfalto não seria construído. Em vez de arrojadas pontes, prosaicas pinguelas. Nos nossos aeroportos, mal e porcamente, só pousariam urubus e teco-tecos.
Reflito sobre esse modelo perverso de liberação de verbas do governo ao conviver “diuturnamente e noturnamente” (singular construção da presidenta, embaralhando significados) com esses bichinhos conhecidos como bactérias.
Hoje, a grande estrela-vilã é o Acinetobacter baumannii "turbinado", microorganismo de distribuição universal, que tem causado grande estrago nos hospitais brasileiros. Em Alagoas, particularmente em UTIs de Maceió, nos últimos meses seu nome tem sido sussurrado em voz baixa, auricular. Com efeito, olha-se para os lados antes de cochichar-se entre paredes: “é a ‘bactéria’ ”. Quase uma condenação.
O fato é que a criatura agiganta-se em ambientes propícios: pacientes com imunidade comprometida e imundície. Há anos, nosso HGE vive a tragédia da superpopulação humana. Para completar o drama, o SUS local trata com flagrante desigualdade (privilegiando algumas unidades) a rede conveniada, dificultando ainda mais a transferência dos doentes.
Por fim, fica claro que se a Saúde tivesse a força do lobby das empreiteiras, diretores do HGE e do Hospital Universitário não estariam, ingloriamente, trocando farpas através da imprensa.