PROSTITUTAS E TOUPEIRAS
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
Línguas malsãs costumam dizer que
a prostituição está para Cuba como o bolsa-família está para o Brasil. Com
efeito, um amigo, “insuspeito” celibatário e comunista-guevarista de
carteirinha, relatou, para quem quisesse ouvir, um affaire com uma agradável
jovem islense que se dizia arquiteta, especialista em “equipamentos urbanos”.
Isabelita mostrou-se de uma fidelidade à revolução que beirava o
grotesco. Morena calipígia, o seu belo corpo tatuado exibe temas nacionalistas que revelam incondicional amor à pátria. Enfim,
lindamente nua, o alagoano deu de cara
com as brochantes imagens de Fidel e
Guevara ocupando boa parte dos esculturais glúteos. Um desperdício, bom Deus, segundo
ele..
Sim. Era, com muito orgulho,
funcionária do governo. A bem da verdade, agua grama. Os dólares advindos da atividade,
digamos, lúdica, eram-lhe indispensáveis. Modéstia à parte, era disputadíssima. Tivesse ela, na prancheta,
a metade da criatividade revelada na cama, seria uma réplica perfeita do
companheiro Niemayer.
Seu senso de cidadania comoveu o
parceiro sexual. Os dólares (ou parte deles) eram trocados e iriam engrossar o
caixa do governo. Na hipótese menos nobre, pagaria as fraldas importadas que o incontinente
velho Fidel consome. Anteviu todas as
crises cíclicas do capitalismo. É dura com o ultraliberalismo e vaticina o
iminente esfacelamento do imperialismo americano.
Beleza herdada da mãe, não está no ramo por acaso. Sente-se
privilegiada por conviver com pessoas de outras plagas. Desde
que remunerada, não distingue gênero. Adora a multifacetariedade sexual das
comitivas brasileiras. Gente evoluída, desprovida de idiotas preconceitos
burgueses. São grupos álacres, que pagam
regiamente, apreciam a boa bebida cubana, a farra, a suruba e “los puros”. Uns debochados.
Que não se conte com ela para
beijos na boca. Aprendera com Julia
Roberts, numa cópia pirata do filme Uma Linda Mulher. Não obstante, considera a obsessão feminina pelo orgasmo como um odiento
capricho pequeno-burguês. “Gostaria de pensar que a companheira Dilma comunga
da mesma opinião”, completa.
Sequer admite discutir que as
médicas cubanas, contratadas pelo “Mais Médicos”, sejam prostitutas. Ainda que
quisessem, não se enquadrariam no perfil do metier. Nesse aspecto, ela dá razão ao jornalista
Ricardo Mota. Quanto à competência, Isabelita não põe a mão no fogo por
nenhuma. Seriam “toupeiras”, definiu no seu portunhol de beira de cais.
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