sexta-feira, 27 de setembro de 2013

DOM CARLITO DE LA PAZ Y LIMA


DOM CARLITO DE LA PAZ Y LIMA

RONALD MENDONÇA

MÉDICO E MEBRO DA AAL

De súbito, despertou no meio da noite e, vencendo a meia escuridão, foi ao quarto onde guarda seus livros e mil e uma lembranças. A um canto, a espada de cadete, polida regularmente, reluzia pendurada na cintura de um manequim sem cabeça vestido de sua garbosa farda. Criação dos amigos e parentes arquitetos, as peças compõem o museu particular que paciente e silenciosamente  construiu ao longo dos anos. Protegidas por uma vidraça, em exposição permanente, não fora o detalhe da ausência do crânio, aos desavisados parece uma pessoa de carne e osso.

O Velho Capita estava tenso. Dali a algumas horas estaria abrindo a FLIMAR. Estrategista por formação,  embora tudo estivesse organizado, há sempre os imprevistos: a enxaqueca de uma auxiliar, um atraso de voo, uma defecção inesperada...  Nos últimos dias teve de se virar para conseguir um novo espaço para abrigar algumas palestras. É que o local prometido foi fechado para reformas...

Quedar-se-ia pensativo na sua quase aurora solidão. Sentiu-se gratificado ao verificar que acertou na mosca por escolher Graciliano Ramos e Cacá Diegues como homenageados. Dois mitos. Um deles lenda viva da cultura e da arte brasileiras. O primeiro com vida e obra marcantes, cujas  agruras e glórias pessoais já valem um bom romance.

Repassou toda a FLIMAR. Como um César ao atravessar o Rubicão, disse de si para consigo “ alea jacta est”, ou, “seja o que Deus quiser”. Viu-se então, anos atrás, timidamente lançando seu rumoroso livro de memórias da caserna. Depoimentos polêmicos, contudo essenciais para uma catarse espiritual e um início fantástico como escritor. Sexagenário, tomaria gosto pela coisa. Tornou-se um cronista dos mais respeitados e lidos, estilo inconfundível. Imitado mas nunca igualado. São quase 20 títulos publicados.

Fazendo dos vetustos  armazéns de Jaraguá castelos medievais, tal um Quixote redivivo, duelaria em defesa da honra de donzelas prostitutas. Vieram as Negras Odetes, as Marias Batalhões, as Marias Sugadoras, as Pafinhas, Margôs, Terezinhas À La Coq e outras tantas anônimas ou famosas que fizeram a iniciação (e continuação) desse nunca completamente concluído aprendizado das artes e mistérios do amor. Desde Gardel não se cantava tão bem a “tragédia das perdidas, compreendendo suas vidas e perdoando seus papeis...”

Alagoas orgulha-se de você, meu bom Carlito. E , hoje,  a você se rende.

 

 

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

ONÇAS, ANTROPÓFAGOS E ANACONDAS


ONÇAS, ANTROPÓFAGOS E ANACONDAS
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
 

Fissurado  em sessão do Supremo, persegue-me  crônica paixão recolhida pelo Direito. Embora desde cedo – depois de renunciar à vida monástica – tenha focado a Medicina, criei-me também entre advogados. Adolescente, viajava nos  apaixonados relatos que os tios faziam de famosos julgamentos. Nomes como Evandro Lins e Silva, Nelson Hungria, Pontes de Miranda, Oscar Stevenson, com certo exagero, me eram quase familiares.

Lembro uma sessão em que famoso criminalista penetrava nas entranhas de um assassinato. Do lado oposto, uma advogada defendia o acusado. Sussurrava-se que entre os dois havia algo além do Código de Hamurabi. Num dado momento, a causídica – por sinal, simpática – interromperia o discurso do colega advertindo-o de que este  não seria homem bastante para tomar tal ou qual providencia jurídica. A resposta foi imediata: “Nada me impede de enveredar por essa linha. Quanto ao homem, V. Exa. já teve oportunidades de conferir in loco. “

Disso tudo vem a compaixão em  compreender o excruciante sofrimento moral dos companheiros mensaleiros com o julgamento, a conta-gotas, dos “embargos infringentes. Eles não merecem passar por esse calvário.  Poucos resistiriam. Somente homens com a têmpera forjada  no desterro, nos campos nazifascistas, nos porões da ditadura...  Derrotando onças do Pantanal, antropófagos e anacondas na Amazônia,  e  por que não dizê-lo, superando os extenuantes exercícios de guerrilhas,  é que teriam condições de suportar tais provações.

Deus tem sido muito generoso com o povo brasileiro em ter permitido que o seu destino fosse entregue em honradas mãos petistas, peemedebistas, pecebistas, pedetistas e outras não menos  competentes e honestas. Por isso a certeza de que nada de mal vai acontecer a esses doces rapazes. Sobretudo porque eles destilam inocência, como perfume uma flor.

 Mortais comuns  perguntam-se como pôde acontecer de pessoas de índoles tão boas serem acusadas de coisas tâo feias... É a inveja. O capital estrangeiro é capaz de qualquer coisa. Vejam o que aconteceu a esse bom menino, ex-espião americano. O capitalismo selvagem quase o liquidou. Era  um oráculo das esquerdas em  estado larvar.

Gente, Dona Dilma merece um afago. Felizmente, quarta-feira está próxima. Com o voto do decano do STF, Celso Mello, enfim  veremos uma pontinha de sorriso nos rostinhos de madame e dos queridos mensaleiros.

PROSTITUTAS E TOUPEIRAS


PROSTITUTAS E TOUPEIRAS

RONALD MENDONÇA

MÉDICO E MEMBRO DA AAL

Línguas malsãs costumam dizer que a prostituição está para Cuba como o bolsa-família está para o Brasil. Com efeito, um amigo, “insuspeito” celibatário e comunista-guevarista de carteirinha, relatou, para quem quisesse ouvir, um affaire com uma agradável jovem islense que se dizia arquiteta, especialista em “equipamentos urbanos”.

 Isabelita mostrou-se  de uma fidelidade à revolução que beirava o grotesco. Morena calipígia, o seu belo corpo tatuado exibe temas nacionalistas  que revelam incondicional amor à pátria. Enfim, lindamente nua, o alagoano  deu de cara com as brochantes  imagens de Fidel e Guevara ocupando boa parte dos esculturais  glúteos. Um desperdício, bom Deus, segundo ele..

Sim. Era, com muito orgulho, funcionária do governo. A bem da verdade, agua  grama. Os dólares advindos da atividade, digamos, lúdica, eram-lhe indispensáveis. Modéstia à parte,  era disputadíssima. Tivesse ela, na prancheta, a metade da criatividade revelada na cama, seria uma réplica perfeita do companheiro Niemayer.

Seu senso de cidadania comoveu o parceiro sexual. Os dólares (ou parte deles) eram trocados e iriam engrossar o caixa do governo. Na hipótese menos nobre,  pagaria as fraldas importadas que o incontinente velho Fidel consome. Anteviu  todas as crises cíclicas do capitalismo. É dura com o ultraliberalismo e vaticina o iminente esfacelamento do imperialismo americano.

Beleza herdada da mãe,  não está no ramo por acaso. Sente-se privilegiada por   conviver com pessoas de outras plagas. Desde que remunerada, não distingue gênero. Adora a multifacetariedade sexual das comitivas brasileiras. Gente evoluída, desprovida de idiotas preconceitos burgueses. São grupos álacres,  que pagam regiamente, apreciam a boa bebida cubana, a farra, a suruba e “los puros”.  Uns debochados.

Que não se conte com ela para beijos na boca. Aprendera  com Julia Roberts, numa cópia pirata do filme Uma Linda Mulher. Não obstante, considera  a obsessão feminina pelo orgasmo como um odiento capricho pequeno-burguês. “Gostaria de pensar que a companheira Dilma comunga da mesma opinião”, completa.

Sequer admite discutir que as médicas cubanas, contratadas pelo “Mais Médicos”, sejam prostitutas. Ainda que quisessem, não se enquadrariam no perfil do metier.  Nesse aspecto, ela dá razão ao jornalista Ricardo Mota. Quanto à competência, Isabelita não põe a mão no fogo por nenhuma. Seriam “toupeiras”, definiu no seu portunhol de beira de cais.

domingo, 8 de setembro de 2013

O FIM DO MUNDO


O FIM DO MUNDO

RONALD MENDONÇA

MÉDICO E MEMBRO DA AAL

Sinal dos tempos, sobretudo depois que nossas faculdades de medicina  resolveram ensinar cidadania em lugar de doutrina e prática médicas, quero crer que  nossos irmãos cubanos não devem ser os piores médicos do mundo. Ainda que estranhem medicamentos mais atualizados (sabe-se lá se são médicos mesmo), que lhes soem esquisitas palavras como tomografia, ressonância, ultrassonografia, suponho que em pouco tempo estarão familiarizados.  Só então irão entender como é difícil conseguir que seus pacientes as realizem.

Haverá oportunidades de diagnosticar alguma doença cirúrgica. Com certeza ficarão como cavalo de 07 de setembro (“cagando e andando”) se alguém  precisar de uma radioterapia e esperar meses para iniciar o tratamento. Prosaicas hérnias, prolapsos uterinos, fimoses, joanetes, hemorroidas, dentes podres, panarícios e tantas outras misérias humanas que a bondade de Jeová nos presenteou, certamente deixarão “los  puros”  meio atrapalhados. Claro que ninguém vai dar um pio.

O fim do mundo está próximo. Americanos estão nos espionando. Canalhas capitalistas, invejosos do nosso inquebrantável sistema financeiro; do nosso quase perfeito sistema único de Saúde; do insuperável programa de Educação, que conseguiu o feito de ter setenta por cento de analfabetos funcionais; da grandeza moral e ética do nosso Parlamento...

Seria monótono enumerar todas as virtudes que motivariam a cobiça ianque por informações sigilosas. Nossas estradas, a honestidade dos gestores, as cadeias, o sistema jurídico, a segurança pública, o rígido controle de fronteiras, a indústria de pregos, a fábrica de jangadas, a pipoca Bokus, o picolé Caicó...

Se os cafajestes ianques julgam que esse é um país de desfibrados estão redondamente enganados. Temos um Sarney, um Maluf, uma Marta Suplicy, uma Erenice, um Lula Jr., um Barbalho. Queremos Obama de cócoras. A tomada da Casa Branca será um passeio. À frente guerrilheiros treinados em Cuba: o valente Zé Dirceu,  Aurélio Top-Top,  órfãos de Lamarca, Genoíno (de maca) Delúbio, Silvinho Land Rover, a própria Dilma-Rambo pilotando sua moto...

Não restará pedra sobre pedra. A retaguarda jurídica está perfeita com Lewandovksy e Toffoli. Melhor do que isso só o corpo de saúde. Comandados por Roberto Kalil, o policromático escudeiro dos famosos, a tropa de cubanos cuidará dos feridos. Deus em pessoa estará conosco nas piedosas figuras de  Boff e Frei Betto.