sexta-feira, 16 de agosto de 2013

DO SONHO AO CALOTE


Do sonho ao calote

Ronald Mendonça

Médico e Membro da AAL

Relatava o doutor Ib Gatto que um amigo pediatra,  Abelardo Duarte, notável  cultor das letras, narrara-lhe um sonho em que se viam (ele e outros colegas) num grande anfiteatro dando aulas a jovens vestidos de branco.  Despertara várias vezes e ao voltar a dormir as imagens repetiam-se. Ninguém precisava ser um José do Egito para decifrá-lo

O sonho de uma faculdade de medicina se cristalizaria meses depois. Escrevo sem consultar, mas creio que eram doze os que assinaram a ata de fundação, na sede da Sociedade Alagoana de Medicina, ainda no alvorecer dos anos 50 do século precedente.  Doutor Ib, o persistente sonhador Abelardo, Theo Brandão, Sebastião da Hora, AC Simões, José Lyra, dentre os presentes.

A novel Faculdade de Medicina de Alagoas transformaria o cenário médico-científico da Província. Até mesmo seus hábitos.  As turmas compactas, tendo as centenas de leitos da Santa Casa de Maceió à disposição, recebiam invejável orientação didática. Muitos dos formados exerceriam o magistério substituindo ou auxiliando os fundadores.

Esta semana, sem alardes, foi enterrado o Prof. Alfredo Ramiro Bastos, o último vivo dos fundadores da Faculdade de Medicina. Possivelmente o mais jovem daqueles desbravadores, doutor Alfredo foi professor de Terapêutica Clínica, hoje extinta. Cardiologista com passagem pelos Estados Unidos – uma exceção na época -, chegou a ser diretor da Faculdade,  àquela altura já federalizada.

Apaixonado por esportes, foi médico e técnico do glorioso Centro Sportivo Alagoano, onde colecionou títulos, mas sobretudo impagáveis histórias. Treinou voleibol. A partir de 1977 convivemos como coleguinhas de departamento. Já relatei, aqui mesmo, a saga de um goleiro do Santanenese, “muito bom, mas azarado”. Com essa sina maldita, o técnico Alfredo Ramiro despacharia o pretendente  com antológica frase. “Pelo menos em três profissões o sujeito não pode ter azar: cirurgião, piloto de avião e goleiro. “

Doutra feita, um famoso goleador pediu-lhe dinheiro emprestado. Temendo o calote, exigiu que o sujeito assinasse documento acusando a disposição de honrar. O mau pagador sentiu-se ultrajado com a prerrogativa. “Doutor, sou um homem de bem. Parece até que o senhor não me conhece. A minha palavra vale mais que qualquer selinho de cartório.” Chiou, mas assinou.

-E aí, professor, o cara pagou?

-Negou fogo!  Botei o sujeito na Justiça. Mudou de time. O Regatas honrou a dívida. Cabra de peia existe em todo lugar.

 

 

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