sexta-feira, 19 de outubro de 2012

É DANDO QUE SE RECEBE

É DANDO QUE SE RECEBE

RONALD MENDONÇA

MÉDICO E MEMBRO DA AAL






O “valente guerrilheiro” Zé Dirceu não é responsável pela morte do personagem Max, da novela Avenida Brasil. Não eram amigos. Max não tinha conta no Banco Rural. Conhecia Valério, Delúbio e Silvinho de vista. Não obstante, era eleitor do Lula. Votou no João Paulo. Ele e Carminha não perdiam o programa da sexóloga Marta Suplicy.

Pelo amor de Deus, não vamos manchar a honra do ícone das esquerdas. Acham pouco ficar escondidinho quatro anos - enquanto seus amigos levavam cacete - aguardando o momento exato para sair das sombras e chefiar um mensalão? Definitivamente, Zé Dirceu não é sequer suspeito pela morte de Max, sobretudo pelo fato de não trabalhar na novela.

Zé Dirceu é, por enquanto, tão somente, o chefe da quadrilha que mobilizou dinheiro público para comprar apoio político. Como ninguém é de ferro, parte da grana teve destino “incerto e não sabido”. Consta que uma babinha escorreu por aqui.

É dando que se recebe. Dirceu e seus comparsas, amigos de fé e de tantas jornadas do piedoso Frei Betto, certamente dele ouviram a oração de S. Francisco. Alunos aplicados, apreenderam as lições do diretor espiritual de Lula e as empregaram na íntegra.

Nem todos têm a tolerância cristã. Os ministros do Supremo Tribunal Federal, por exemplo, influenciados pela fala de Joaquim Barbosa (um “negro complexado”, segundo definição de Lula) não acharam graça nas picaretagens do “capitão do time”.

O fato é que nunca dantes nesse país o preconceito atingiu patamares tão elevados. Na Província, a propaganda de uma moto em que uma jovem em pose sensual, ambiguamente, sugere oferecer “aquilo” como recompensa está em vias de ser retirada das paredes.

Em São Paulo, Serra perde para um simulacro. Pudera. O enjoado tucano tem como cabo eleitoral o pastor Malafaia, uma mala sem alça. Que Haddad é um obsceno pau-mandado todos sabemos. Que o seu “Kit-Gay” é uma grande palhaçada ninguém tem dúvidas. É o “dando que se recebe” mais inverossímil do planeta. Dinheiro público no lixo. Mas daí fazer disso o cavalo de batalha de uma campanha eleitoral...

Falo do dando que se recebe e me lembro da atriz Sylvia Kristel (falecida esta semana), que encarnou a personagem erótica/pornô Emmanuelle. Li o livro antes de ver o filme. Preferi o primeiro. Sem nenhuma ilustração, o livro exalava sexo. Não obstante a beleza de Kristel, a fantasia criada a partir do texto escrito evanesceu-se ao tornar-se coxas e seios ao vivo e em cores.

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É DANDO QUE SE RECEBE

RONALD MENDONÇA

MÉDICO E MEMBRO DA AAL






O “valente guerrilheiro” Zé Dirceu não é responsável pela morte do personagem Max, da novela Avenida Brasil. Não eram amigos. Max não tinha conta no Banco Rural. Conhecia Valério, Delúbio e Silvinho de vista. Não obstante, era eleitor do Lula. Votou no João Paulo. Ele e Carminha não perdiam o programa da sexóloga Marta Suplicy.

Pelo amor de Deus, não vamos manchar a honra do ícone das esquerdas. Acham pouco ficar escondidinho quatro anos - enquanto seus amigos levavam cacete - aguardando o momento exato para sair das sombras e chefiar um mensalão? Definitivamente, Zé Dirceu não é sequer suspeito pela morte de Max, sobretudo pelo fato de não trabalhar na novela.

Zé Dirceu é, por enquanto, tão somente, o chefe da quadrilha que mobilizou dinheiro público para comprar apoio político. Como ninguém é de ferro, parte da grana teve destino “incerto e não sabido”. Consta que uma babinha escorreu por aqui.

É dando que se recebe. Dirceu e seus comparsas, amigos de fé e de tantas jornadas do piedoso Frei Betto, certamente dele ouviram a oração de S. Francisco. Alunos aplicados apreenderam as lições do diretor espiritual de Lula e o empregaram na íntegra.

Nem todos têm a tolerância cristã. Os ministros do Supremo Tribunal Federal, por exemplo, influenciados pela fala de Joaquim Barbosa (um “negro complexado”, segundo definição de Lula) não acharam graça nas picaretagens do “capitão do time”.

O fato é que nunca dantes nesse país o preconceito atingiu patamares tão elevados. Na Província, a propaganda de uma moto em que uma jovem em pose sensual, ambiguamente, sugere oferecer “aquilo” como recompensa está em vias de ser retirada das paredes.

Em São Paulo, Serra perde para um simulacro. Pudera. O enjoado tucano tem como cabo eleitoral o pastor Malafaia, uma mala sem alça. Que Haddad é um obsceno pau-mandado todos sabemos. Que o seu “Kit-Gay” é uma grande palhaçada ninguém tem dúvidas. É o “dando que se recebe” mais inverossímil do planeta. Dinheiro público no lixo. Mas daí fazer disso o cavalo de batalha de uma campanha eleitoral...

Falo do dando que se recebe e me lembro da atriz Sylvia Kristel (falecida esta semana), que encarnou a personagem erótica/pornô Emmanuelle. Li o livro antes de ver o filme. Preferi o primeiro. Sem nenhuma ilustração, o livro exalava sexo. Não obstante a beleza de Kristel, a fantasia criada a partir do texto escrito evanesceu-se ao tornar-se coxas e seios ao vivo e em cores.

sábado, 13 de outubro de 2012

O PÓ


O PÓ

Ronald Mendonça

Médico e Membro da AAL

O professor Bouganville era a figura mais respeitável da faculdade. O culto à sua pessoa transbordava os umbrais do santuário hipocrático. Às suas magistrais aulas acorriam alunos de todas as séries. Momentos havia de dúvidas acerca do que lhe era mais destacado, se seu cristianismo epidérmico ou a arte burnida nos sacros territórios de Epidauro.

Assim foi a figura de José da Silva Bouganville, um pesquisador incansável, desnudo das vaidades mundanas (que, a seu ver, enfraquecem o caráter e condenam a alma). Esposo e pai exemplar, nosso herói, na sua imensurável modéstia, dizia-se, só acalentava um orgulho: nunca cobrara uma consulta. No íntimo, um quase anacoreta a viver entre a família, os doentes, os alunos e a inquebrantável Fé.

O bom José um dia se aposenta. A elegância sóbria passaria a ser vista aos finais de tarde em áreas movimentadas. Shoppings e galerias viraram objetos de desejo. Nada se lhe comparava à recém descoberta da beleza das mulheres jovens, seus montes e vales. O anatomista esculpia na mente os detalhes ocultos.

O fato é que o arquétipo da moral, o pai de várias gerações de brilhantes esculápios, o fiel leitor de Santo Agostinho, tornara-se um compulsivo namorador. Ou tentava sê-lo. Os desatinos atingiriam o clímax com a sua rumorosa prisão, em plena via pública, depois de tentar assediar fisicamente uma colegial com a idade de sua bisneta.

Levado a uma perícia médica, chegou-se à dolorosa conclusão: o cérebro do eminente mestre havia murchado em áreas, justamente, que dão prumo às condutas morais. Uma carta da família esclareceria os fatos. Lida na Congregação da Faculdade, comoveria o mais empedernido dos corações. Bouganville, num rasgo de resignação, exclamaria: “Do pó vim, ao pó retorno!”.

Lembrei-me do  velho professor, depois da carta da filha de José Genoino, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como um dos chefes do mensalão. Sua biografia, até onde se sabe, e ao contrário do seu chefe no esquema e colega de condenação, o faroso José Dirceu, registra a “mão na massa”. Com desprendimento, levou o seu comunismo ao paroxismo da luta armada. Más línguas o acusam de ter capitulado aos paus de arara e entregue colegas... Como Bouganville, ele e Dirceu estão retornando ao pó.

Lágrimas à parte,  ligeiro pormenor histórico tem sido, estranhamente, escamoteado. É que ambos (o intrépido e o dissimulado) a seus modos, combateram a milicada, disso não há dúvidas. Soa como tremenda piada, contudo,  descrevê-los “democratas”  posto que suas metas sempre foi uma ditadura comunista...

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O HÍMEN DA VIRGEM DE SÃO BERNARDO




Outrora cantada em versos e prosas, sonho de consumo de porcos machistas chauvinistas, a virgindade feminina está disponível na rede de computadores. Uma jovem catarinense pôs sua película à venda, em leilão. Constam ofertas de cem mil dólares. Precinho salgado, acessível a mensaleiros e quejandos.

Moralismos à parte, crê-se que, em Alagoas, salvo a perdulária classe política e alguns gestores apreciadores da fruta, poucos teriam cacife para bancar a moça. Assim mesmo com uma mãozinha de Viagra.

Falo de preço de virgindade e logo me vem o egrégio ministério remanescente do governo anterior. Passivo de gratidão da “herança bendita”, esses caras - defenestrados dos seus cargos apenas após exposição midiática  - participaram ativamente, imagina-se, com seus “esforços” para a eleição de dona Dilma.

Portanto, a permanência nos cargos integraria o catecismo de velhas receitas republicanas de fazer vistas grossas às patifarias ministeriais, desde que não sejam denunciadas pela imprensa. Embora não haja originalidade, esse conceito teve no PT de Lula, Dilma, Dirceu et caterva aplicadíssimo aluno, diga-se de passagem, pupilo que superou os mestres.

Que pena as coisas terem terminado assim! Lembro com muita saudade daquele brotinho em flor, vestal estrela a tremeluzir-se em frêmitos de honestidade nas portas das fábricas. É certo que poucos acreditavam naquele frenesi demagógico de “partido que nem rouba, nem deixa roubar”. Há, contudo, uma melancolia aos ataques a Sarney, Maluf, Delfim - “o gordo sinistro”... A pretensa virgindade era quase comoventemente crível. Oh! Deus, onde andará aquele hímen dantes inexpugnável, que tão bem simbolizava a agremiação?

Hímens e virgindades lembram, na ficção, o Capitão Justiniano Duarte da Rosa, o Capitão Justo, estereotipado personagem do romance Tereza Batista Cansada de Guerra, de Jorge Amado. Capitão Justo, símbolo do Mal, era um compulsivo colecionador de hímens de adolescentes. Arrancados à força, centúrios, transformavam-se em pingentes troféus ao pescoço,  em lendário colar de contas. O fim foi trágico.

Na vida real, o julgamento do mensalão, como já se disse, bem que poderia ser denominado de julgamento da virgindade perdida. A essa altura, ninguém acredita que a virgem de São Bernardo tenha sido estuprada por um Capitão Justo qualquer. As evidências processuais não deixam dúvidas sobre a vontade deliberada de perder-se, de leiloar sua membrana. Passou um boi, passou a boiada.