domingo, 26 de agosto de 2012

GLORINHA, O RAPAZ, A LÍNGUA E A PIMENTA





 
 
 

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA


RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL



Armas dos covardes e despeitados, a difamação, a calúnia e a injúria ganharam novas ferramentas. Dos clássicos cochichos ao discurso público, tudo vale quando se quer denegrir a honra de alguém.
A carta anônima, com letra modificada, foi substituída por textos digitalizados. Correios e telégrafos tornaram-se obsoletos com a revolução da internet. E-mails com pseudônimos, panfletagens apócrifas em bares e assembleias e até pichações em paredes fazem parte do arsenal do difamador. Sem falar em rádios, jornais, revistas e TV...
A difamação é um crime que mira a moral e a honra alheias. Mais grave quando gratuita. Pior na eventual possibilidade do deliquente esconder-se sob o manto de uma doença mental. E no entanto a Justiça parece leniente, indiferente...
Lembro Glorinha, casadoira jovem pilarense do início do século XX. O pai, conceituado e pacato médico do interior, cultivava pimenteiras. Era uma referência na área, mantendo correspondência com os centros mais desenvolvidos do planeta.
Eis que uma estranha figura, alienígena, funcionário dos telégrafos, imiscuir-se-ia na vida da comunidade. Logo o sujeito se revelaria detentor de inesgotável repertório de histórias ouvidas alhures.
Num dado momento, o forasteiro engraçou-se pela bela Glorinha, que lhe sorriu mas o descartou. Rancoroso, sem provas, movido por vil sentimento, entre um papo e outro, foi chamando a atenção para suposto romance da jovem com o velho pároco, um negro alforriado.
Os comentários chegariam aos ouvidos dos pais. Uma hecatombe! É que as infâmias, mesmo as mais improváveis, há sempre alguém a dar-lhes crédito.
Ainda que sem culpas, Glorinha recolheu-se envergonhada. Perdeu o viço. Tuberculose galopante sobreveio-lhe cruel. Em meio a hemoptises encontraria forças para enforcar-se.
Imaginem uma cidade consternada, acompanhando o enterro, a população revezando-se nas alças. Até o telegrafista participou do rodízio. Concluída a inumação, um grupo de amigos insistiu com o difamador para um passeio no campo. Não tardou o pai de Glorinha receber em casa uma encomenda inusitada: numa caixa de sapato, uma língua humana ainda palpitando. No fundo, um bilhete: “Que fazemos com isso?”
Suspirando fundo, o velho médico arrastou-se até o quintal. Colheu as pimentas mais picantes, acondicionando-as ao macabro troféu. Antes de fechar a caixa e devolver ao portador, rabiscaria no mesmo papel: “Guarde no ânus do rapaz.”


AMAR É DAR RAZÃO A QUEM NÃO TEM


UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA


Amar é dar razão a quem não tem
Ronald Mendonça
Médico e membro da AAL


Agosto é conhecido pelos voos rasantes com que  vassouras de bruxas cortam os céus azuis-anil.  É o mês mal-assombrado, no qual tudo de ruim pode acontecer. Enumeram-se alguns fatos – não vou repisar todos -, como o suicídio de Getúlio Vargas, em 24/08/1954. Dentre outros infortúnios federais, registra-se, em agosto de 1961, a renúncia de Jânio Quadros.
Para compensar, há 100 anos, em 23/08, nascia Nelson Rodrigues, o grande nome do teatro e da crônica brasileira, evento, aliás, que tem sido razoavelmente bem lembrado. A renúncia de Jânio – que ensejou um imbróglio que descambaria no golpe de 1964 – e o suicídio do “Pai dos Pobres”, talvez sejam objetos de alguma notinha.
Não sou íntimo, muito menos especialista da obra de Rodrigues. Minha curiosidade sobre os seus escritos  remontam à adolescência, quando ávido corria para as páginas do extinto Jornal de Alagoas em busca de sua coluna “A vida como ela é”.
Autor proscrito do Colégio Marista, onde estudei, era visto com reservas pelas famílias mais conservadoras. É que o autor de Bonitinha mas ordinária costumava relatar coisas que, como diria Roberto Jefferson (o Pai do Mensalão), despertava no adolescente que fui os instintos mais primitivos. Mais tarde, penetrei um pouco mais no texto do “Anjo Pornográfico”, descortinando horizontes além de escrachada permissividade.
O fato é que Nelson Rodrigues, muitas vezes hiperbólico, imiscuiu-se na vida dos brasileiros, ora como impiedoso retratista e irônico intérprete, ora como profeta. Por sinal, mantenho à cabeceira o seu livro Memórias, manancial que faz parte dos meus rasos enlevos literários.
Frasista original e engraçado, agora mesmo, com o voto de amor e gratidão do ministro Lewandowsky, a eximir de todas as culpas o nobre deputado João Paulo, ocorrem-me dois enunciados: um deles, de Stanislaw Ponte Preta, que teorizava: “Moralizemos a coisa ou locupletemo-nos todos.” O outro, do próprio Nelson, tem tudo a ver com o perfil ministerial: “Amar é dar razão a quem não tem”.
Por seu turno, João Paulo, certamente, deve estar morrendo de rir, repetindo o dramaturgo:”Se os fatos são contra mim, pior para os fatos”.
Encerro, lamentando a morte inopinada e brutal da conhecida e competente psiquiatra alagoana Fátima Lobo. Atropelada por uma moto em desvario, quando chegava ao trabalho, Lobinho, como era conhecida, é mais uma vítima da incúria, da loucura em que se transformou o desgovernado trânsito da capital alagoana. Com a palavra o gestor e seus competentes auxiliares

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O DOCE BILAU DO MINISTRO












Como tem sido exaustivamente demonstrado, as travessuras com o dinheiro público nos primeiros anos do reinado petista, não passaram de contrações lisérgicas da oposição. Sem discurso, tucanos e outros bichos teriam se amatulado com o que existe de mais retrógrado da imprensa burguesa e rancorosa para cutucarem um governo que nem roubava nem deixava roubar.

Antes disso, uma tragédia aguardava o prefeito Celso Daniel, de Santo André. Vejam só: Daniel havia descoberto que o esquema (montado por ele) de achacar empresários para extorquir dinheiro para o seu partido (o mesmo do presidente Lula), havia se “desvirtuado”. É que os recolhedores do partido, em detrimento da sigla, estavam embolsando a grana. O resto todos sabem: Celso Daniel foi friamente assassinado. Seu “valet de chambre” – um certo Sérgio - teria escapado por “milagre”. Não fora a pressão dos irmãos de Daniel, certamente, tudo isso não passaria de mais uma orquestração falaciosa.

Inferno zodiacal ronda os companheiros. Se já não bastassem as greves generalizadas, as olímpicas humilhações e o vergonhoso índice educacional (e as cotas, hein?) eis que, de repente, tudo eclode. Celso Daniel e o mensalão irrompem das sombras.

No meu materialismo biológico, fico de queixo caído com a dialética desses operadores do Direito. Investidos da inquebrantável convicção da inocência dos seus clientes, os nobres causídicos reservam-nos risíveis contorcionismos semânticos. Um deles, para reforçar a imagem de candura da cliente a chama de “mequetrefe”. Até que poderia ser “pilombeta”. Um outro crê piamente que o culpado é o Zé Lingüiça, anônimo petista, um boi de piranha. O fato é que, para seus advogados, todo réu é pau mandado.

Sem querer desmerecer (na verdade, morrendo de inveja) os milionários honorários dos iluminados defensores, são os ministros as grandes estrelas do espetáculo. Mesmo batendo boca como em qualquer discussão de boteco, suas excelências são insuperáveis.

A propósito, quem teria roubado a cena no último final de semana foi o “Enfant Terrible”, o benjamin do STF, José Dias Toffoli, homem de ouro da advocacia petista.

Segundo o jornalista Ricardo Noblat, Toffoli o atropelou com um linguajar de bordel de cais de porto. “Canalha” teria sido o adjetivo mais cordial. Na cachoeira de impropérios, nem a mãe do jornalista teria escapado. No fim, Dias Toffoli condena-o a chupar o seu “bilau”. Supõe-se diabético, a julgar pelo autopropalado gosto adocicado.

sábado, 11 de agosto de 2012

GOD E OS MORTAIS COMUNS

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA


“GOD” E OS COMUNS MORTAIS
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL



Finalmente está se chegando à Suprema Verdade. Nunca existiu mensalão. Aquela dinheirama, que escorria livre leve e solta, quase à socapa, nas mãos dos dirigentes e gurus da quadrilha que “nem rouba, nem deixa roubar” não passa de fantasias psicodislépticas dos procuradores da República.
Pelo menos é o que se depreende das orações dos brilhantes causídicos que ora se revezam no palco do STF, performances de dar inveja a Sir Lawrence Olivier (o maior dos shakespearianos). Não poderia ser diferente. Afinal de contas, o chefão é simplesmente o insuperável Márcio Bastos, ou “God”, como é tratado pelos acólitos. Por sinal, “God” teria ficado p. da vida quando a linda Andressa Mendonça (uma prima distante) foi acusada de tentar chantagear o juiz responsável pelo “caso Cachoeira”.
Más línguas, no entanto, atribuem o espasmo ético de “God” ao fato de não vir recebendo, regularmente, a gorda bufunfa do contraventor. Há quem diga que o defensor dos oprimidos vinha levando esporros impublicáveis do marido de Andressa, por continuar preso, apesar do prestígio de “God”.
Comenta-se que o que mais maltrata o nosso pobre Cachoeira é estar longe dos botões da blusa de "Drê", hipocorístico de travessuras de alcova da deliciosa priminha, certamente sussurrado sob macios lençois e soltos travesseiros.
Falo de música, Cachoeira e God e logo vem a imagem de personagem de igual estatura: Demóstenes Torres, o incorruptível jacobino do Brasil Central. Depois dele só um Zé Dirceu tem cacife para competir de igual para igual.
Recém-cassado, Demóstenes deu um show de superação. Nesta semana foi visto a participar de canora noitada num restaurante de Brasília, um point imperdível onde a nata dos defensores dos mensaleiros comemorava. Dentre outros sucessos, encerraria o recital com uma emocionante canção de Sinatra.
Em meio a festins de Baltasar, há ainda quem dê duro nesse País. Não obstante a crônica anemia em medalhas olímpicas - retrato do MEC a imprensa tem focado em Touro Moreno, anônimo ex-pugilista que, mesmo sem ajuda oficial, acreditou que poderia transformar seus filhos, Esquiva e Yamaguchi, em campeões de boxe.
A cada vitória, Moreno tem sido lembrado pelos filhos, preito especialmente significativo às vésperas do Dia dos Pais.
Tomo carona nessas manifestações. Com a licença dos leitores, presto uma homenagem ao meu saudoso pai, que punha fé que livros e lápis fariam a diferença no destino dos filhos.

GOD E OS MORTAIS COMUNS

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA


“GOD” E OS COMUNS MORTAIS
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL



Finalmente está se chegando à Suprema Verdade. Nunca existiu mensalão. Aquela dinheirama, que escorria livre leve e solta, quase à socapa, nas mãos dos dirigentes e gurus da quadrilha que “nem rouba, nem deixa roubar” não passa de fantasias psicodislépticas dos procuradores da República.
Pelo menos é o que se depreende das orações dos brilhantes causídicos que ora se revezam no palco do STF, performances de dar inveja a Sir Lawrence Olivier (o maior dos shakespearianos). Não poderia ser diferente. Afinal de contas, o chefão é simplesmente o insuperável Márcio Bastos, ou “God”, como é tratado pelos acólitos. Por sinal, “God” teria ficado p. da vida quando a linda Andressa Mendonça (uma prima distante) foi acusada de tentar chantagear o juiz responsável pelo “caso Cachoeira”.
Más línguas, no entanto, atribuem o espasmo ético de “God” ao fato de não vir recebendo, regularmente, a gorda bufunfa do contraventor. Há quem diga que o defensor dos oprimidos vinha levando esporros impublicáveis do marido de Andressa, por continuar preso, apesar do prestígio de “God”.
Comenta-se que o que mais maltrata o nosso pobre Cachoeira é estar longe dos botões da blusa de "Drê", hipocorístico de travessuras de alcova da deliciosa priminha, certamente sussurrado sob macios lençois e soltos travesseiros.
Falo de música, Cachoeira e God e logo vem a imagem de personagem de igual estatura: Demóstenes Torres, o incorruptível jacobino do Brasil Central. Depois dele só um Zé Dirceu tem cacife para competir de igual para igual.
Recém-cassado, Demóstenes deu um show de superação. Nesta semana foi visto a participar de canora noitada num restaurante de Brasília, um point imperdível onde a nata dos defensores dos mensaleiros comemorava. Dentre outros sucessos, encerraria o recital com uma emocionante canção de Sinatra.
Em meio a festins de Baltasar, há ainda quem dê duro nesse País. Não obstante a crônica anemia em medalhas olímpicas - retrato do MEC a imprensa tem focado em Touro Moreno, anônimo ex-pugilista que, mesmo sem ajuda oficial, acreditou que poderia transformar seus filhos, Esquiva e Yamaguchi, em campeões de boxe.
A cada vitória, Moreno tem sido lembrado pelos filhos, preito especialmente significativo às vésperas do Dia dos Pais.
Tomo carona nessas manifestações. Com a licença dos leitores, presto uma homenagem ao meu saudoso pai, que punha fé que livros e lápis fariam a diferença no destino dos filhos.

sábado, 4 de agosto de 2012

A HORA DA COBRANÇA



Por: » RONALD MENDONÇA – médico e membro da AAL.
O respeitável colunista Sebastião Nery, um dos mais bem informados jornalistas do País, sem rodeios, aponta o ex-presidente Lula como o mentor da compra de parlamentares, expediente que ficou conhecido como “mensalão”.

Com ou sem aspas, dependendo das paixões políticas pessoais, o esquema funcionou azeitado por dinheiro público até que alguém abriu o bico mostrando o momento em que um funcionário dos Correios recebia, à sorrelfa, uma babinha. Surgia o falastrão Roberto Jefferson, que entregaria todo o funcionamento dando nome aos bois, com inegável conhecimento de causa. Como pedras de um dominó, foram caindo figuras carimbadas, freando de súbito no ministro José Dirceu, o “número 2” da novel república popular socialista brasileira.

Verdadeira tragédia. Gente como Genoino, João Paulo, Silvinho (“Land Rover”) e Delúbio, além do próprio Dirceu, na contramão das evidências, insistiam que seu partido “não roubava nem deixava roubar”. A culpa era da imprensa revanchista, golpista e rancorosa. E tome deputado a renunciar ao cargo para não ser cassado. Na crista, um sinistro careca, de nome Valério, roubaria a cena. Até o publicitário Duda Mendonça tirava suas casquinhas. Uma festa democrática com a cara e a digital do PT. Lula tremeu. Apareceu humilde, pálido e sudoreico pedindo desculpas ao brasileiro. Queixava-se de traição. Nunca soube de nada. Um anjinho barroco em meio de víboras. Não cairia por pura incompetência da oposição, com indeléveis nódoas morais.

Enquanto essa gente nadava (e continuou nadando) em ouro suspeito, a equipe brasileira de ginastas passa vergonha em Londres, grotescamente, em sucessivas quedas de bunda, depois de manjadas piruetinhas. O natural nervosismo mistura-se à insuficiente preparação, à falta de renovação do plantel. Nossas apostas estão nos artríticos Hipólitos e Daiane dos Santos. É de causar dó o sofrimento dessas criaturas. Daqui a pouco esses gloriosos atletas estarão competindo de bengala ou cadeira de rodas. Que ninguém se engane, isso aí é a síntese da educação capenga do País. Do “nóis é feliz”.

Diferentemente da bisonha campanha em Londres, imediatamente punida pela ausência de medalhas, nossos pilantras mensaleiros estão longe de maiores admoestações. É que as nomeações para os altos cargos teriam preço e prazo. É justo. Finalmente, a gratidão é um dos sentimentos mais nobres do ser humano. É chegada a hora da cobrança.