domingo, 13 de maio de 2012

A SORBONNE, O FILÓSOFO E A SALPÊTRIÈRE




Aqui na Lutécia,  os comentários políticos giram em torno da mui recente eleição do socialista François Hollande. Há quem insista que a família Hollanda - com um ou dois eles seria a mesma em todo o mundo. Por isso, os Hollanda de Alagoas  estariam com a bola cheia, na lista de convidados espeiais para a posse do  presidente francês.

O fato é que o homem foi eleito por apertada margem de votos. Minhas pesquisas pessoais  demonstram um certo "empate técnico". Sarkozy predomina nos trabalhadores de bares, recepcionistas de hotéis e vendedores de lojas. Entre os taxistas,  coroinhas e sacristãos, sobretudo negros, Hollande dá um banho.

Nessa estafante peregrinação  pelo Velho Mundo, eis que dou de cara com uma figura instigante, justamente num pequeno bistrô, quase frontal à estátua de Augusto Comte, na Praça da Sorbonne.  Frequentado por estudantes e  professores, na verdade,  fui atraído pelo sugestivo nome, "L'Ecritoire", que me remete ao torrão natal.

Nosso interlocutor, um professor aposentado de filosofia da célebre universidade, é um brazilianista que fala português sem sotaque. Marxista, stalinista, homossexual e católico praticante, tem adoração pelo Lula, pela Dilma, por Zé Dirceu, Genoíno, Orlando Silva, Silvinho, Delúbio "Boca Mole" e toda aquela turma que orgulha o país.   Não tem a menor dúvida de que Celso Daniel suicidou-se.

Nunca acreditou no mensalão. Tem absoluta certeza de que tudo aquilo foi orquestrado pela imprensa hegemônica, burguesa, canalha e rancorosa interessada em desestabilizar o governo socialista de um "operário no poder".   Considera François Hollande um simulacro, um burguesinho "merde" com tinturas socialistoides. Votou nele por ser o menos ruim.

A veneração por Josef Stalin é comovente.  Eleva o ditador a maior psiquiatra do mundo, o homem que erradicou a doença mental na Rússia. Para ele, o Gulag é   invenção da Guerra Fria.

Odeia o atual papa - tanto quanto os psiquiatras. Na sua visão, a chefia da Igreja deveria estar nas mãos de três piedosos religiosos: Frei Betto Libânio, Leonardo Boff e Cônego Luís Marques. Ao citar o religioso alagoano, o filósofo deu um arzinho de riso. Admitiu ter amigos no Brasil, inclusive em Alagoas.

Infelizmente, uma ambulância do Instituto de Psiquiatria da Salpêtrière chegou para reconduzir nosso herói ao internamento.  Maluco de carteirinha e trânsfuga recalcitrante, o filósofo toda vez que foge do hospital vai jogar conversa fora no L'Ecritoire. Sua permanência no recinto dura o tempo dos garçons telefonarem para a Salpêtrière.  








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