Aqui na Lutécia, os comentários políticos giram em torno da mui
recente eleição do socialista François Hollande. Há quem insista que a família
Hollanda - com um ou dois eles seria a mesma em todo o mundo. Por isso, os Hollanda
de Alagoas estariam com a bola cheia, na lista de
convidados espeiais para a posse do presidente francês.
O fato é que o homem foi eleito por apertada margem de votos. Minhas
pesquisas pessoais demonstram um certo
"empate técnico". Sarkozy predomina nos trabalhadores de bares,
recepcionistas de hotéis e vendedores de lojas. Entre os taxistas, coroinhas e sacristãos, sobretudo negros,
Hollande dá um banho.
Nessa estafante peregrinação pelo
Velho Mundo, eis que dou de cara com uma figura instigante, justamente num
pequeno bistrô, quase frontal à estátua de Augusto Comte, na Praça da Sorbonne. Frequentado por estudantes e professores, na verdade, fui atraído pelo sugestivo nome, "L'Ecritoire",
que me remete ao torrão natal.
Nosso interlocutor, um professor aposentado de filosofia da célebre
universidade, é um brazilianista que fala português sem sotaque. Marxista, stalinista,
homossexual e católico praticante, tem adoração pelo Lula, pela Dilma, por Zé
Dirceu, Genoíno, Orlando Silva, Silvinho, Delúbio "Boca Mole" e toda
aquela turma que orgulha o país. Não
tem a menor dúvida de que Celso Daniel suicidou-se.
Nunca acreditou no mensalão. Tem absoluta certeza de que tudo aquilo foi
orquestrado pela imprensa hegemônica, burguesa, canalha e rancorosa interessada
em desestabilizar o governo socialista de um "operário no poder". Considera François Hollande um simulacro, um
burguesinho "merde" com tinturas socialistoides. Votou nele por ser o
menos ruim.
A veneração por Josef Stalin é comovente. Eleva o ditador a maior psiquiatra do mundo, o
homem que erradicou a doença mental na Rússia. Para ele, o Gulag é invenção da Guerra Fria.
Odeia o atual papa - tanto quanto os psiquiatras. Na sua visão, a chefia da Igreja deveria estar nas
mãos de três piedosos religiosos: Frei Betto Libânio, Leonardo Boff e Cônego
Luís Marques. Ao citar o religioso alagoano, o filósofo deu um arzinho de riso.
Admitiu ter amigos no Brasil, inclusive em Alagoas.
Infelizmente, uma ambulância do Instituto de Psiquiatria da Salpêtrière
chegou para reconduzir nosso herói ao internamento. Maluco de carteirinha e trânsfuga recalcitrante, o filósofo toda vez que
foge do hospital vai jogar conversa fora no L'Ecritoire. Sua permanência no
recinto dura o tempo dos garçons telefonarem para a Salpêtrière.
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