O ex-presidente Lula pode correr para o abraço: está
"curado" do câncer que ameaçava detonar laringe e voz. Certamente,
Deus na sua infinita misericórdia obrou a seu favor, ainda que contando com um
leve auxílio do Sírio-Libanês (inacessível
a cerca de 99% da população). Mas isso é um mísero detalhe se reconhecermos o
bem que esse cidadão fez e fará pelas pessoas. Afinal de contas, familiares e
amigos ainda precisam muito dos seus préstimos.
Igual destino não tiveram o escritor, teatrólogo e cartunista Millor Fernandes e o humorista Chico Anísio.
Tudo bem que as doenças e, sobretudo, as idades pesaram no desfecho. Fernandes
tinha quase 90 anos. O cearense Chico viveu até os 80, bastante se olharmos seu
estilo de vida um tanto "libertino". O fato é que o país enlutou-se com a morte de ambos.
Na verdade, o humorista, ator e pintor (além de outras habilidades)
estava na marca do pênalti há alguns meses. Crítico e engraçado, conseguiu
construir, a partir da sua feiúra física, tipos inesquecíveis. Com certeza não
posava de "ideológico". Estava mais para o tipo que perdia o amigo
mas não perdia a piada. Já era um nome forte na comédia antes de 1964. Depois
do golpe, teve toda uma matéria prima de excepcional qualidade para desenvolver
o humor, embora não tenha sido um contestador sistemático.
Chico Anísio sabia como era
difícil a arte que abraçou. Com efeito, fazer rir sempre não deve ser moleza.
Nesse aspecto, desempenhou papel importantíssimo, segundo os especialistas, ao resgatar
e abrigar no seu programa, creio que ainda no fastígio da carreira, velhos
humoristas em declínio e também novos em ascensão. Fez escola.
Soa inútil comparar Millor a
Chico Anísio. Utilizando outras ferramentas, sem dúvidas mais elaboradas e de
acesso mais complicado, a linguagem do jornalista era singular. Teatrólogo,
tradutor, escritor, poeta, era um intelectual refinado, um crítico atento, sem
peias. Combateu a ditadura, certamente
com o mesmo vigor com que se insurgiria contra outras ditaduras. Seu humor era mais
sofisticado, algumas vezes hermético.
Tido como um dos maiores frasistas brasileiros, não fazia segredos do
desprezo por Machado de Assis. Foi cáustico com colegas jornalistas que se
beneficiaram do "bolsa-ditadura", sinecura de duvidosa moralidade.
Não sei se fazia tipo ao se confessar machista. Resumiria sua definitiva
rendição ao sexo oposto ao afirmar que o
movimento feminino que mais o entusiasmava era o dos quadris.
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