Dias desses, num longo documentário, o diretor
e ator Woody Allen confessava-se “anedônico” e justificava: “Nunca me sinto
feliz. Se estou num lugar, logo penso que ficaria melhor se estivesse em outro,
a quilômetros de distância, de preferência em outro continente”.
De repente, num contexto woodyalleniano, a
impressão é de clima de anedonia nacional geral. Isso é péssimo para a
autoestima, que, como todos sabem, quando baixa aumenta a taxa de câncer da
população. Pelo que ando lendo, hoje em estado de graça no País, só o Lula, o
Gianecchini e o ex-ministro Thomaz Bastos, por razões diversas. Os dois
primeiros riem à toa pela suposta cura dos seus tumores; o último deve estar
andando com bloqueadores dentários de tanta felicidade, sobretudo depois de ter
como clientes o filho do Eike Batista e a síntese da moralidade brasileira, o Cachoeira.
Imaginem
o nosso nível de inveja, pobres médicos de SUS e convênios, recebendo
300 reais por uma cirurgia de aneurisma e ver um cara faturando 15 milhões para
defender um contraventor! O fato é que o hedonismo parlamentar deu lugar a
cenhos franzidos, olhares angustiados, sussurros com a mão à boca, que é para
driblar a leitura labial. O medo ronda e tortura governistas e oposicionistas.
É o pesadelo da CPI.
Com efeito, a tristeza é ampla, geral e
irrestrita. Até Dona Dilma, uma senhora classuda, verdadeira lady, sabidamente
bem humorada, tem exibido inusual carranca. Se não bastassem os escândalos de
corrupção, que de palmo em palmo brotam vicejantes, não há provas de que seus
auxiliares diretos não estejam envolvidos com o chuá-chuá do Cachoeira.
Nessa arca de desilusões e incertezas, não
escaparam bispos e comunistas (meio sem discursos depois da "falência" do
capitalismo). Que a Igreja ande chateada com a legalização de abortos para
anencefálicos e gravidezes por estupros, é compreensível. Afinal, dentro de sua
coerência, o mal formado é um ser humano; não obstante o defeito, para os que creem,
dotado de uma alma. Nas gestações pós estupros, a anedonia sobra para os
obstetras, incomodados em praticar abortos de
fetos saudáveis.
Com o fim do capitalismo (que não seja uma
cascata), confesso minha ansiedade em
participar da “nova ordem mundial” com os meus parcos préstimos neurocirúrgicos.
Que chegue logo! O velho pequeno burguês de Bebedouro quer mergulhar de cabeça nessa
grandiosa experiência socialista (comandada por Zé Dirceu, Genoíno, Orlando
Silva etc), antes que o implacável Creonte o encontre.
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