domingo, 20 de fevereiro de 2011

A VIOLÊNCIA QUE NOS RONDA

Como todos que convivem nas Alagoas, o âncora de uma emissora de rádio está transpirando indignação com a violência que por aqui grassa. Esta semana, num paroxismo de revolta e ódio, acusou diretamente o governo do Estado como o grande responsável pela criminalidade que nos ronda e aflige. Em última análise: a omissão do Estado como esteio da segurança do cidadão.
Na verdade, o jornalista ficou frenético com um assalto em que vários membros de uma família foram baleados, embora todos sobrevivessem. Pensei em Ceci Cunha, assassinada em 1998, em prosaica reunião familiar. Foram quatro cadáveres de uma só vez. Fiquei a imaginar qual seria o grau de revolta desse comunicador se na ocasião estivesse, microfone em punho, com plena liberdade de emitir suas imparciais opiniões.
Em novembro de 1999, dois dos meus filhos foram assassinados em casa, praticamente enquanto dormiam. Não me recordo de nenhuma manifestação do jornalista, acusando o governo da época como responsável pelos crimes.
No mesmo período, um militar da PM matou um jovem numa churrascaria no interior do Estado. Cheguei a publicar um artigo, nesta mesma Gazeta de Alagoas, solidarizando-me com a família enlutada. Registrei a parcela de culpa do governo por manter, nas fileiras da briosa PM, guarda-costas e assassinos de aluguel. Aliás, parte do material dos presentes comentários baseia-se em velhos artigos de minha autoria.
Foram tempos duríssimos, em que a criminalidade corria livre e solta sem qualquer controle. As fugas no recém-inaugurado Baldomero Cavalcante eram tão frequentes que parecia que suas paredes eram feitas de cuspe e isopor. Num dos finais de semana, assinalei que o número de mortos em Alagoas, causadas pela violência, empatava com São Paulo.
É injusto, contudo, dizer que a violência entre nós nasceu há dez ou doze anos. Para não ir muito longe, cito o Sindicato do Crime dos passados anos 40 e 50, organização à margem da lei dirigida por condestáveis da capital e do interior. Não raramente, personagens públicas tombaram, em plena luz do dia, nas ruas centrais da cidade. Nesse aspecto, o período de Muniz Falcão foi emblemático.
Na ditadura, grupos de extermínio ligados à Segurança, num jogo macabro, disputavam a hegemonia de assassinatos. Falava-se, à boca não tão miúda, que componentes do aparato policial somavam individualmente mais de três centenas de mortes. A coisa estava fora de controle, culminando com a “Chacina do Pilar” covarde página sangrenta da nossa crônica policial. Inesperadamente entrou em cena um certo cabo Henrique e virou tudo de cabeça para baixo.
Isso sem falar na “gangue fardada”, de triste memória, desmantelada há pouco mais de doze anos.

Nenhum comentário: