domingo, 20 de fevereiro de 2011

UM POUCO DE HISTÓRIA

Em Bebedouro, a repercussão do golpe militar de 1964 não poderia ter sido mais positiva. Com efeito, nós do Bebedourense e do Juventus, os times da “turma da Praça”, vivíamos chateados com a esculhambação que reinava no País. Jornais e revistas da época mostravam imagens que derrapavam do protesto ao autêntico vandalismo. Ninguém de sã consciência saberia dizer aonde aquela baderna iria terminar.

A grande verdade que muita gente quer hoje negar é que o golpe militar de 64 teve o apoio maciço da população. As forças armadas tinham consolidado um conceito moral acrescido pela participação na segunda guerra, apenas 20 anos antes. A propaganda induzia a pensar nos militares como heróis e mártires que haviam arriscado ou até sacrificado suas vidas para varrer o nazismo do planeta. A interferência dos militares num governo que havia perdido a autoridade e o rumo soaram naturais. O papel de guardião da nação encaixava-se como uma luva.

Os alagoanos sentiram a dureza do regime. Logo na primeira eleição para o governo, Muniz Falcão seria reeleito, mas não assumiria. Nunca houve uma explicação para a cassação de Muniz. Já canceroso, sua morte seria atribuída à descabida punição. Aliás, Ademar de Barros, do mesmo partido, seria cassado na mesma leva. Seus descendentes estariam exigindo o “Bolsa Ditadura”.

Um certo general Tubino sucederia o governador Luiz Cavalcante, na qualidade de interventor. Não recordo por quanto tempo esse cidadão esteve nos Martírios. A ideia é de que se tratava de um sujeito sério, afável, que teria se integrado à comunidade. Lamenha Filho, seu substituto, inauguraria uma nova etapa na escolha de governadores: a eleição indireta na Assembleia Legislativa. Outros o sucederiam: A. Lages, Suruagy, G. Palmeira e, de novo, Suruagy.

Lamenha Filho tinha um histórico de repetidas eleições para deputado estadual. Era descrito como um homem simples, habilidoso, desprendido e íntegro. Doutor Ib Gatto, o gigante das Alagoas, o definia como um “governador que amava as letras”. Cercou-se de gente qualificada. O próprio Ib Gatto foi secretário do Planejamento de um time que incluía Marcos Bernardes de Mello, Luiz Renato de P. Lima, dentre outros. Um futuro desembargador despontava nessa equipe como uma das reservas morais do Estado: Antonio Sapucaia.

A consagração mais visível da era Lamenha está no Trapiche da Barra: a Escola de Ciências Médicas e o Trapichão, generosamente nomeado de Rei Pelé.

A VIOLÊNCIA QUE NOS RONDA

Como todos que convivem nas Alagoas, o âncora de uma emissora de rádio está transpirando indignação com a violência que por aqui grassa. Esta semana, num paroxismo de revolta e ódio, acusou diretamente o governo do Estado como o grande responsável pela criminalidade que nos ronda e aflige. Em última análise: a omissão do Estado como esteio da segurança do cidadão.
Na verdade, o jornalista ficou frenético com um assalto em que vários membros de uma família foram baleados, embora todos sobrevivessem. Pensei em Ceci Cunha, assassinada em 1998, em prosaica reunião familiar. Foram quatro cadáveres de uma só vez. Fiquei a imaginar qual seria o grau de revolta desse comunicador se na ocasião estivesse, microfone em punho, com plena liberdade de emitir suas imparciais opiniões.
Em novembro de 1999, dois dos meus filhos foram assassinados em casa, praticamente enquanto dormiam. Não me recordo de nenhuma manifestação do jornalista, acusando o governo da época como responsável pelos crimes.
No mesmo período, um militar da PM matou um jovem numa churrascaria no interior do Estado. Cheguei a publicar um artigo, nesta mesma Gazeta de Alagoas, solidarizando-me com a família enlutada. Registrei a parcela de culpa do governo por manter, nas fileiras da briosa PM, guarda-costas e assassinos de aluguel. Aliás, parte do material dos presentes comentários baseia-se em velhos artigos de minha autoria.
Foram tempos duríssimos, em que a criminalidade corria livre e solta sem qualquer controle. As fugas no recém-inaugurado Baldomero Cavalcante eram tão frequentes que parecia que suas paredes eram feitas de cuspe e isopor. Num dos finais de semana, assinalei que o número de mortos em Alagoas, causadas pela violência, empatava com São Paulo.
É injusto, contudo, dizer que a violência entre nós nasceu há dez ou doze anos. Para não ir muito longe, cito o Sindicato do Crime dos passados anos 40 e 50, organização à margem da lei dirigida por condestáveis da capital e do interior. Não raramente, personagens públicas tombaram, em plena luz do dia, nas ruas centrais da cidade. Nesse aspecto, o período de Muniz Falcão foi emblemático.
Na ditadura, grupos de extermínio ligados à Segurança, num jogo macabro, disputavam a hegemonia de assassinatos. Falava-se, à boca não tão miúda, que componentes do aparato policial somavam individualmente mais de três centenas de mortes. A coisa estava fora de controle, culminando com a “Chacina do Pilar” covarde página sangrenta da nossa crônica policial. Inesperadamente entrou em cena um certo cabo Henrique e virou tudo de cabeça para baixo.
Isso sem falar na “gangue fardada”, de triste memória, desmantelada há pouco mais de doze anos.

INCRÍVEL CARTA DE UM INDIGNADO

Incrível carta de um indignado

(*) Ronald Mendonça


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Quer me parecer que foi na década de 70 do findo século que as empresas multinacionais de saúde enxergaram no Brasil um mercado promissor.
Certamente por isso, jornais e empresas de televisão começaram a repercutir fortemente notícias do mau funcionamento do sistema de saúde pública vigente.

De fato, poucos eram os dias em que não aparecia uma denúncia de falhas no atendimento, braços e pernas encanados de forma equivocada, moribundos arquejantes recusados nas portas de hospitais, quando não, crianças nascendo em plena via pública. Um desmantelo dos diabos.

Nesse ínterim, floresceriam no País os chamados “Planos de Saúde” privados. A verba curta, a improvisação gerencial, as ingerências partidárias, a incompetência, a roubalheira, os desvios no erário, ou tudo isso junto, a grande verdade é que o, hoje, SUS é simplesmente caótic. Quanto aos Planos de Saúde, nascidos para ocupar o vazio da assistência pública, transformaram-se em verdaeiras armadilhas. A propósito,transcrevo parte de inacreditável e-mail de um neurocirurgião de São Paulo,Dr. Carlos Brandão, que talvez retrate um pouco o modus operandi dessas arapucas:
“No fim de semana de 22 e 23 de janeiro, vivi mais um abuso de plano de saúde, perpetrado não contra mim, mas contra uma garotinha de 20 dias”.

“Nasceu em um hospital da capital, e depois de 20 dias, o perímetro cefálico havia aumentado 10 cm!!! Enviada ao meu consultório às 16h30 do dia 21 de janeiro último, e com plano de saúde para vencer no dia seguinte”.

“Recém-nascidos têm 30 dias para serem incluídos no plano, e a mãe ainda não o fizera. O convênio, Porto Seguro, negou a Guia de Internação (atrás do convênio e respondendo por ele existe um médico, que negou a internação).

Durante toda a madrugada os familiares, na recepção do hospital, tentando internar a paciente, o que só foi possível quando a madrinha concordou em interná-la, particular”.

“Às 2 horas da manhã, depois de muita conversa, o convênio concorda em ceder vaga no Hospital Sabará (outro hospital). Mas, os familiares querem que eu a opere, não conhecem o médico que vai atendê-la e nem se ele o fará logo pela manhã de sábado.

Fica internada particular. A criança tem que ficar umas horas em jejum, fazer pré-operatórios. Finalmente operada, agora está bem. Ninguém jamais saberá quais os danos adicionais por esta demora de mais de 14 horas, em regime de franca hipertensão intracraniana”.

“E quanto mais ainda os pais terão que gastar com psicólogas, fonoaudiólogas, terapeutas ocupacionais, tempo, etc. Porque? Porque um auditor resolveu defender o ‘seu’. (Auditores ganham bônus por procedimentos negados