A DÚVIDA
Ronald Mendonça
Ronald Mendonça
Evandro e Vanessa conheceram-se ainda crianças. Chegaram a estudar juntos no Grupo Monsenhor Valente. No ginásio e no colegial estiveram distantes. O pai de Vanessa foi para o Piauí assumir uma gerência bancária. Quando se reencontraram estavam na fila de matrícula para o curso de odontologia. A flecha de Cupido foi certeira. Toda aquela saudade reprimida, todo aquele afeto não realizado, toda aquela paixão de anos de espera explodiram como o Vesúvio nos seus melhores dias. Não se desgrudaram mais. Era uma sede biológica de carinho e amor. Subiam a Ladeira da Catedral beijando-se escandalosamente. Olhavam-se, tocavam-se, esfregavam-se sofregamente como se não houvesse o dia seguinte.
Petistas de carteirinha, dois anos depois de formados casaram-se. Fizeram questão de pagar as despesas. Ainda lembro a festa. Nunca vi coisa igual. Durante a cerimônia religiosa, o velho pároco, confessor dos pecadilhos da infância, teve que interromper várias vezes a emocionada homilia. Beijos e olhares desconcentravam o orador. Falou da Sagrada Família, da resignação de José, ao aceitar uma noiva grávida sem que ele tivesse sequer triscado na bela Maria. Mas também falou de Vinicius, de Paulo (o apóstolo), de Agostinho... Nesse dia, D. Vladimir superou-se, certamente contaminado pelo fogo da paixão que emanava do casal. Convidado de honra, nessa noite, o eminente cônego precisou ser carregado. Fazia tempo que ele não bebia tanto.
Petistas de carteirinha, dois anos depois de formados casaram-se. Fizeram questão de pagar as despesas. Ainda lembro a festa. Nunca vi coisa igual. Durante a cerimônia religiosa, o velho pároco, confessor dos pecadilhos da infância, teve que interromper várias vezes a emocionada homilia. Beijos e olhares desconcentravam o orador. Falou da Sagrada Família, da resignação de José, ao aceitar uma noiva grávida sem que ele tivesse sequer triscado na bela Maria. Mas também falou de Vinicius, de Paulo (o apóstolo), de Agostinho... Nesse dia, D. Vladimir superou-se, certamente contaminado pelo fogo da paixão que emanava do casal. Convidado de honra, nessa noite, o eminente cônego precisou ser carregado. Fazia tempo que ele não bebia tanto.
Dez, quinze anos depois, os filhos não chegavam. Enquanto esperava, o casal participava de ações voluntárias na Igreja para tentar tirar viciados da lama. Alguns se apegavam ao casal, um deles costumava almoçar e lhes fazia companhia nos finais de semana. Era um carente, abandonado pela família. Deixara as drogas mas as tatuagens esquisitas ficaram como a marcar de forma indelével a vida devoluta. Financeiramente estáveis, os olhares foram perdendo o brilho, os sorrisos descaiam, as frontes enrugavam-se. Impacientavam-se um com o outro. Telefonemas estranhos calavam quando ele atendia. Não suportou a angústia. Contratou o melhor detetive particular. Importou do Rio de Janeiro.
Usando tecnologia de ponta, garantiu que em duas semanas colocaria tudo em pratos limpos. Na sua experiência, quando um dos cônjuges desconfia há setenta por cento de chance de ele estar certo.
.
Bastou uma semana para apresentar o relatório. O detetive avaliou o estado emocional do marido. Não era raro um traído virar-se contra ele. Leu em voz alta, no gabinete dentário do contratante: "No dia tal, o alvo saiu de casa em torno de nove horas da manhã. Parou numa loja de bebidas, onde adquiriu duas garrafas de vinho tinto. Comprou queijo e torradas. Incluiu dois potinhos de patê. O alvo estava com uma blusa esverdeada presa na cintura. Estava sem sutiã. Usava calça jeans apertada e sapatos de saltos altos. Havia um ar "chique desprovido". Permita-me dizer, o alvo é uma mulher muito atraente."
O dentista acharia aquele comentário inadequado, mas engoliu em seco. O detetive prosseguiu com a leitura: "O alvo deixou a loja de bebidas, entrou na BMW e foi em direção norte, seguindo a beira da praia." “E aí, que aconteceu”, perguntou o ansioso marido.
O Sherlock Holmes do pecado não se deixou impressionar. Cobrara caro e queria demonstrar a sua competência com uma descrição minuciosa. "O alvo estacionou num Shopping e não saiu do automóvel. Alguns minutos depois, um cidadão cabeludo e tatuado adentrou-se de súbito no automóvel. O alvo não havia desligado o motor do carro. Tão logo a repelente figura tomou assento, o alvo manobrou e afastou-se da cidade tomando a direção norte. Cerca de cinco minutos depois, o alvo guiou o seu carro para uma mansão..."
”E aí, meu amigo, deixe de frescura e vá direto ao assunto”. E, por favor, minha esposa não se chama alvo. Exijo respeito, Doutora Vanessa! "Bem, era uma residência particular e não pude entrar..." “Olha companheiro, estou lhe pagando os olhos da cara, e o senhor me traz um relato pífio, cheio de reticências... O senhor me decepciona. Não faz jus à sua fama e ao seu preço, detetive”, rosnou o contratante.
O relator fuzilou o marido com um olhar meio zombeteiro. "Ainda não terminei. Fiquei montando guarda nas imediações da casa. Meu faro me dizia que eu iria observar algo definitivo. Tenho pressa para concluir esse caso. Valeu a pena persistir no meu posto de observação".
”Cerca de cinco minutos após ingressar nessa pretensiosa mansão, o alvo, digo, a doutora, apareceria abraçada com o cabeludo numa varanda do primeiro andar. Desculpe mais uma vez o comentário, mas como uma mulher tão bela, de tanta classe abraça e beija um tipo desses... Mas o fato é que tirei várias fotos do alvo, sem blusa e sem mais nada (meu Deus, que seios lindos), trocando carícias com o parceiro tatuado. O senhor poderá ver algumas fotos que mostram o indivíduo mamando nos seios virginais do alvo."
O dentista estava indócil. Mordia os lábios até sangrar. Não podia acreditar que a sua doce Vanessa pudesse estar agarrada com quem quer que fosse, a não ser com ele. A incredulidade tomou conta do seu pensar. "Meu Deus, onde eu estava com a cabeça quando contratei alguém para seguir a minha mulher? Eu estava louco. Terminou, detetive?"
O detetive estava desconsertado. Nunca vira semelhante reação. Ainda assim, dissertou: "Depois da mamação e das felações, o cabeludo pegou o alvo nos braços, revelando a linda nudez. (Realmente, uma preciosidade). Adentrou-se no aposento e fechou a janela." E depois?, indagou o infeliz.
"Bem, confesso que não vi mais nada de comprometedor". E arrematou: "O alvo deixou a casa cerca de duas horas depois. Seus olhos esverdeados brilhavam no meu poderoso binóculo. O cabeludo abriu os portões e ainda houve um “selinho” de despedida”.
"Essa é a minha dúvida, detetive”, O senhor fala, fala e não mostra eles trepando. Continuo com os mesmos questionamentos. É mais ou menos o que se diz do Lula e da Dilma. As pessoas só acusam. Ninguém prova nada.”
Usando tecnologia de ponta, garantiu que em duas semanas colocaria tudo em pratos limpos. Na sua experiência, quando um dos cônjuges desconfia há setenta por cento de chance de ele estar certo.
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Bastou uma semana para apresentar o relatório. O detetive avaliou o estado emocional do marido. Não era raro um traído virar-se contra ele. Leu em voz alta, no gabinete dentário do contratante: "No dia tal, o alvo saiu de casa em torno de nove horas da manhã. Parou numa loja de bebidas, onde adquiriu duas garrafas de vinho tinto. Comprou queijo e torradas. Incluiu dois potinhos de patê. O alvo estava com uma blusa esverdeada presa na cintura. Estava sem sutiã. Usava calça jeans apertada e sapatos de saltos altos. Havia um ar "chique desprovido". Permita-me dizer, o alvo é uma mulher muito atraente."
O dentista acharia aquele comentário inadequado, mas engoliu em seco. O detetive prosseguiu com a leitura: "O alvo deixou a loja de bebidas, entrou na BMW e foi em direção norte, seguindo a beira da praia." “E aí, que aconteceu”, perguntou o ansioso marido.
O Sherlock Holmes do pecado não se deixou impressionar. Cobrara caro e queria demonstrar a sua competência com uma descrição minuciosa. "O alvo estacionou num Shopping e não saiu do automóvel. Alguns minutos depois, um cidadão cabeludo e tatuado adentrou-se de súbito no automóvel. O alvo não havia desligado o motor do carro. Tão logo a repelente figura tomou assento, o alvo manobrou e afastou-se da cidade tomando a direção norte. Cerca de cinco minutos depois, o alvo guiou o seu carro para uma mansão..."
”E aí, meu amigo, deixe de frescura e vá direto ao assunto”. E, por favor, minha esposa não se chama alvo. Exijo respeito, Doutora Vanessa! "Bem, era uma residência particular e não pude entrar..." “Olha companheiro, estou lhe pagando os olhos da cara, e o senhor me traz um relato pífio, cheio de reticências... O senhor me decepciona. Não faz jus à sua fama e ao seu preço, detetive”, rosnou o contratante.
O relator fuzilou o marido com um olhar meio zombeteiro. "Ainda não terminei. Fiquei montando guarda nas imediações da casa. Meu faro me dizia que eu iria observar algo definitivo. Tenho pressa para concluir esse caso. Valeu a pena persistir no meu posto de observação".
”Cerca de cinco minutos após ingressar nessa pretensiosa mansão, o alvo, digo, a doutora, apareceria abraçada com o cabeludo numa varanda do primeiro andar. Desculpe mais uma vez o comentário, mas como uma mulher tão bela, de tanta classe abraça e beija um tipo desses... Mas o fato é que tirei várias fotos do alvo, sem blusa e sem mais nada (meu Deus, que seios lindos), trocando carícias com o parceiro tatuado. O senhor poderá ver algumas fotos que mostram o indivíduo mamando nos seios virginais do alvo."
O dentista estava indócil. Mordia os lábios até sangrar. Não podia acreditar que a sua doce Vanessa pudesse estar agarrada com quem quer que fosse, a não ser com ele. A incredulidade tomou conta do seu pensar. "Meu Deus, onde eu estava com a cabeça quando contratei alguém para seguir a minha mulher? Eu estava louco. Terminou, detetive?"
O detetive estava desconsertado. Nunca vira semelhante reação. Ainda assim, dissertou: "Depois da mamação e das felações, o cabeludo pegou o alvo nos braços, revelando a linda nudez. (Realmente, uma preciosidade). Adentrou-se no aposento e fechou a janela." E depois?, indagou o infeliz.
"Bem, confesso que não vi mais nada de comprometedor". E arrematou: "O alvo deixou a casa cerca de duas horas depois. Seus olhos esverdeados brilhavam no meu poderoso binóculo. O cabeludo abriu os portões e ainda houve um “selinho” de despedida”.
"Essa é a minha dúvida, detetive”, O senhor fala, fala e não mostra eles trepando. Continuo com os mesmos questionamentos. É mais ou menos o que se diz do Lula e da Dilma. As pessoas só acusam. Ninguém prova nada.”
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