domingo, 25 de setembro de 2011

terça-feira, 20 de setembro de 2011

DO EXÍLIO

Com os netos, do meu exílio espiritual na Flórida, tento acompanhar pela rede as novidades no Brasil, em particular as de Alagoas. A carne é fraca: às vezes dou uma olhada nos shoppings, cérebro e coração do “decadente capitalismo selvagem”, que, segundo os entendidos, está na UTI respirando artificialmente. Confesso a surpresa, não só ao ver esses sodalícios do consumismo em ebulição, como ao trafegar por suas imensas rodovias. Se tudo isso está prestes a acabar é uma pena. É um País muito organizado, talvez algo monótono.
Monotonia é um termo que não se aplica ao nosso torrão de palmeiras e sabiás. O sucesso da 2ª Flimar (Festa Literária de Marechal Deodoro) repercutiu, sem exageros, no mundo inteiro, deixando Alagoas no roteiro dos grandes eventos literários do País. Também comemoro a prisão dos supostos matadores do vereador e professor da Ufal Luiz Ferreira. No mesmo viés, uma espécie de prévia condenação dos acusados pelo seu partido, o PT. O rito sumário leva a crer que a sigla não convive bem com suspeitos de assassinatos, não obstante a aparente leniência com crimes de corrupção. Está aí a denúncia dos Taturanas da Assembleia, e ninguém do PT é posto na geladeira.
No plano nacional, a imprensa golpista e hegemônica concentrou as baterias numa humilde doméstica que servia à família do ministro do Turismo e era paga com o dinheiro público. Uma bobagem ética que a maioria dos políticos com mandato pratica e nunca deu em nada. A “tesa” dos jornalistas é porque o sujeito era ministro da Dilma e indicação dos Sarney.
À propósito do uso da máquina pública em proveito pessoal, sob o título Raízes da Violência Política em Alagoas foi divulgado, nesses dias, texto do historiador Golbery Lessa. Trata-se de um ensaio abrangente aplicável ao Brasil inteiro. Quando GL diz, por exemplo, que os governantes alagoanos confundem patrimônio privado com o público, mesmo sem mirar, ele acerta na testa de Lula e seus apaniguados; de Sarney, Maluf, ACM, Roriz, Arruda, dentre tantos.
O remorso está me torturando. Semana passada, destaquei o acervo de Jorge de Lima, exposto na sede da Academia Alagoana de Letras. Quis o destino que alguém surrupiasse de lá uma bomba d’água, quem sabe pensando pertencer ao autor de
Nega Fulô. A ação criminosa teria gerado clima de insegurança entre os acadêmicos. Certamente por isso, a esperada eleição para preencher a vaga de d. Fernando Iório, marcada para a quarta, 14, tenha sido mais uma
vez adiada.

sábado, 10 de setembro de 2011

II FLIMAR, VIVOS NA LEMBRANÇA

Mais uma página sangrenta macula nossa história: o assassinato, há uma semana, do médico e professor da Ufal Luiz Ferreira. Figura muito estimada, quer me parecer oportuno que os órgãos aos quais Ferreira era ligado (CRM, Sindicato dos Médicos, Ufal) bem que poderiam sair do habitual monocordismo retórico para cobrar uma resposta mais rápida das autoridades.Basta colocar os respectivos departamentos jurídicos à disposição da causa.
O fat é que não há perplexidades. Os crimes no Brasil passaram à condição de banalidades desde que a generalizada sensação de impunidade nos foi conferida pela classe política. A última lição nos foi dada pela Câmara dos Deputados, com a absolvição de Jaqueline Roriz. Flagrada recebendo propina, os nobres colegas a inocentaram, sob a argumentação de que na oportunidade ela não era deputada. Com o mandato vigorando, a parlamentar nunca será julgada pela justiça comum.
Por tudo isso, o cidadão comum se julga credor de alguma patifaria. Se os senhores deputados (e ex), ministros, presidentes & filhos, governadores, senadores, prefeitos, secretários de Estado, diretores de órgãos e até contínuos de repartições públicas têm o direito de meter a mão no bolo, por que não o degas?
Nem tudo é desgraça. Aqui mesmo nas Alagoas, o escritor Carlito Lima prova que se pode sonhar. Com efeito, na 2ª Flimar (Festa Literária de Marechal Deodoro), que ora acontece, nosso Velho Capita pôs em ebulição nosso mundo cultural. Na histórica Marechal, Carlito teve a feliz iniciativa de homenagear pessoalmente o grande Ledo Ivo, sem qualquer dúvida o literato alagoano mais ilustre. Membro da Academia Brasileira e da Academia Alagoana de Letras (AAL), dotado de febril e plural criatividade intelectual, nosso egrégio conterrâneo está sendo alvo de carinhosas manifestações.
Arnon de Mello também é outro alagoano que tem sido objeto de estudo e conferências. Na homenagem, um aspecto singular: Carlos Mendonça e Milton Ênio, incumbidos da missão, conviveram com o eminente político e empresário. Admiradores do homenageado, seus depoimentos são carregados de particular emotividade.
Dois Jorges alagoanos mereceram a atenção do organizador da 2ª Flimar: Jorge de Lima e Jorge Cooper. Lima tem sido mais constantemente visitado. Por sinal, parte do seu acervo está em exposição na Casa Jorge de Lima, na Praça Sinimbu, atual sede da AAL. Ao mirar em Jorge Cooper, convocando seu filho, médico e poeta Charles Cooper, Carlito Lima resgata uma personalidade meio esquecida, não obstante importante da nossa poesia.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Rien de rien

Instantes é um dos textos mais conhecidos de Jorge Luís Borges, o pranteado escritor argentino. É uma reflexão poética sobre o passado de um cidadão que lutara a vida toda contra o fantasma de conviver nas trevas da cegueira, tragédia pessoal que marcou sua existência. Aos 85 anos, revelando algum arrependimento, Borges observa que poderia ter tomado mais sorvetes, que não devia ter levado a vida tão a sério e lamenta não ter sido mais tolo do que foi. Se lhe fosse permitido retornar, trataria de cometer mais erros, de ser menos certinho e mais feliz... Naquele instante, reconhecia, era um pouco tarde para pôr em prática as coisas que deixara de fazer.
João Cabral de Melo Neto, também teve seu momento de Madalena ao pressentir o “bafo da magra” a rondá-lo. Com efeito, o autor de Morte e Vida Severina, faria comovente desabafo lamentando o distanciamento de sua religião, das suas ave-marias, orações ensinadas pela mãe e que, por insegurança, modismo ou mero desafio, as renegara. Conta-se que, nos estertores, teria pedido para ouvir uma salve-rainha. Antes de partir, queria ficar de bem com o Filho e começava a ajeitar a mãe.
Diferentemente de Sinatra, que em My Way proclama, do seu jeito, seu mea culpa, ao interpretar Je ne regrette rien, a outonal Edith Piaff, apesar de todas as agruras pessoais, concupiscências e revertérios, não obstante fases de glória e glamour, solta a potente voz de contralto e em altos brados desautoriza qualquer arrependimento.
Desfrutando as delícias de doce refúgio em um balneário paulista, quem também não quer ouvir falar em penitência é o terrorista italiano Cesare Battisti, hoje um imaculado cidadão brasileiro. Capa da IstoÉ dessa semana, é o tal cara que na Itália integrava facção criminosa. Trânsfuga internacional, seu país o aguarda para cumprir prisão perpétua por assassinatos. Para boa parte dos italianos, CB não passa de um bandido comum.
Todos sabem que os grandes psicopatas não têm dor de conscência. Fascinados pela autoria de crimes com requintes perversos, muitas vezes, em juízo, são compelidos a exprimir essa “fraqueza”, apenas para driblar condenações menos suaves.
Remorsos uma ova! Battisti dispensa-se dessa farsa pequeno-burguesa. Por cima da carne seca, ídolo gauchiste, tem em Lula e Tarso Genro fiéis escudeiros. Aliás, Genro, ao hostilizar o governo italiano tachando-o de decadente, sofre de amnésia seletiva, que o impede de lembrar que ordenha um governo em incontrolável declínio moral.