Sempre me perguntei qual a coragem desses valentões criminosos que os alagoanos conhecem bem. Diariamente, de uma ou outra forma, frequentam nossos noticiários e são recorrentes temas de mesas de bares. A tática é surrada: cercados de capangas, esses caras espreitam suas vitimas, aproveitando momentos de bobeira para as trucidarem. No fundo, um bando de covardes. Qual a bravura de atirar em alguém desarmado, de surpresa, sobretudo de uns anos para cá quando os nossos juristas se tornaram cada mais lenientes com os crimes de morte? Sem motivos para confrontos, considero-os moralmente desprezíveis. Falo em tese e procuro guardar prudente distância dessa gente.
Estou abalado com o noticiário sobre Realengo. Desde o fatídico dia, a população tem sido bombardeada com matérias jornalísticas abordando a tragédia sob vários ângulos, incluindo aí o suposto choro programado da presidenta. No momento, ouço teorizações sobre o psiquismo do assassino, a adoção, a personalidade pré mórbida, a hereditariedade... Enfim, que forças parasitas fizeram eclodir naquela mente pensamentos e conduta tão sinistros.
Não esqueçamos que Alagoas já foi palco de chacinas em que crianças e adolescentes foram trucidadas por pessoas “normais”. Na tragédia de Realengo, foi fácil chegar à conclusão de que o atirador Wellington Menezes de Oliveira era completamente maluco: ninguém com um mínimo de juízo propõe-se a sair detonando contra adolescentes, de uma hora para outra. Como pitada adicional, o sujeito escolheria a escola onde tinha estudado e alvejado preferencialmente meninas... Machado de Assis dizia que mesmo os loucos têm método. Se estava afim de matar, por que não num quartel?
Governistas, nacionalistas e outros inimigos dos americanos insistem na ideia de que isso é mais uma mazela do decadente povo do norte. Argumentam que além de nos roubarem e nos forçar a consumir hambúrgueres, Coca-cola, Rock Balboa, Sidney Sheldon, Madonna, maconha e cocaína, os sacanas ianques nos impingem mais essa: o ataque insano a nossas escolas. Por pura inveja, querem destruir nosso eficiente sistema educacional.
O fato é que, desde que o PT decretou a morte dos hospitais psiquiátricos, muita tragédia semelhante tem ocorrido. Atingimos o clímax. Wellington não era o único transtornado sem tratamento no Brasil. Não era o único a estar fora dos muros de um hospital psiquiátrico. Com efeito, tenho visto psicóticos e psicopatas em todos os setores da vida pública. Até assinando artigos de jornais.
segunda-feira, 11 de abril de 2011
domingo, 3 de abril de 2011
NA CONTRAMÃO
Aclamado braço moral da era Lula, a morte do ex-vice-presidente José Alencar despertou comoventes e arrebatados depoimentos. Em busca de mártires e heróis, a mídia tem se empenhado em enaltecer as virtudes do falecido, agora hiperbólicas. Nascido numa pequena cidade de Minas, desde os sete anos teria trabalhado na loja do pai. Ainda adolescente, trocaria o balcão paterno por outro estranho. Três anos após, aos dezoito, inauguraria sua primeira loja. Nunca mais seria pobre.
O preço por essa precoce aptidão para os negócios se refletiria na modesta escolaridade formal, detalhe que seria superado por invejável e surpreendente facilidade de expressar-se. Com efeito, era mais desenrolado que muito doutor de canudo.
A carreira político-partidária foi meteórica. Eleito senador, ganhou a simpatia de Lula. Escorraçado por três acachapantes derrotas sucessivas, o ladino ex-torneiro enxergaria no empresário o atalho ideal para driblar a confiança da população – sobretudo classe média - e ajudar a levar seu grupo de espertinhos ao poder.
José Alencar tinha um jeitão despachado que cativava. Matreiro, o bom jogo de cintura ficaria claro quando tirou de letra vociferante vaia dos “puros” do PT. Como vice, decepcionou subindo no muro no escândalo do mensalão. As agruras de sua doença, a forma como reagia a novas recaídas e cirurgias foram irisando a figura de quase divina resiliência. A ausência de sua proverbial postura de político ético não seria muito cobrada. O câncer o blindava de críticas e o “protegia” de maiores atitudes. Fez jogo de cena “condenando” os juros altos, mas foi mais uma vez omisso no caso Erenice & pimpolhos. Finalmente, pisaria feio na bola ao recusar a possibilidade de uma paternidade incômoda. Uma pena.
Na contramão dos comentários, não obstante invulgar cumplicidade com Deus, não considero Alencar modelo ideal de perseverança na busca pela cura. Milhares de anônimos exibem essa mesmas forças e crenças, como forma de sobrevivência. Na realidade, o ex-vice foi beneficiário de uma mega-estrutura financeira e midiática (creio bancada pelo erário), que extrapolou os limites da racionalidade médica. Diante do espetaculoso lobby médico-hospitalar não é difícil presumir que alguém lucrou de forma exorbitante. No fim das contas, a inquebrantável convicção de que usuários de SUS e convênios jamais terão oportunidades terapêuticas nem parecidas. Sim, porque ambos, para economizar, são mestres em retardar autorizações de tratamento, esperando que os doentes desencarnem naturalmente.
O fato é que tampouco o admiro como um ás do empreendedorismo. Num país que tem um iluminado como Lulinha Júnior (nosso Bill Gates), Alencar não passa de um mascate, de um vendedor de bananola. Nem precisaria ir tão longe. Aqui mesmo, na terrinha, vulgarizou-se o desabrochar de gênios financeiros: verdadeiros impérios patrimoniais são erigidos a partir de secretarias de governo ou prosaicos mandatos eletivos.
O preço por essa precoce aptidão para os negócios se refletiria na modesta escolaridade formal, detalhe que seria superado por invejável e surpreendente facilidade de expressar-se. Com efeito, era mais desenrolado que muito doutor de canudo.
A carreira político-partidária foi meteórica. Eleito senador, ganhou a simpatia de Lula. Escorraçado por três acachapantes derrotas sucessivas, o ladino ex-torneiro enxergaria no empresário o atalho ideal para driblar a confiança da população – sobretudo classe média - e ajudar a levar seu grupo de espertinhos ao poder.
José Alencar tinha um jeitão despachado que cativava. Matreiro, o bom jogo de cintura ficaria claro quando tirou de letra vociferante vaia dos “puros” do PT. Como vice, decepcionou subindo no muro no escândalo do mensalão. As agruras de sua doença, a forma como reagia a novas recaídas e cirurgias foram irisando a figura de quase divina resiliência. A ausência de sua proverbial postura de político ético não seria muito cobrada. O câncer o blindava de críticas e o “protegia” de maiores atitudes. Fez jogo de cena “condenando” os juros altos, mas foi mais uma vez omisso no caso Erenice & pimpolhos. Finalmente, pisaria feio na bola ao recusar a possibilidade de uma paternidade incômoda. Uma pena.
Na contramão dos comentários, não obstante invulgar cumplicidade com Deus, não considero Alencar modelo ideal de perseverança na busca pela cura. Milhares de anônimos exibem essa mesmas forças e crenças, como forma de sobrevivência. Na realidade, o ex-vice foi beneficiário de uma mega-estrutura financeira e midiática (creio bancada pelo erário), que extrapolou os limites da racionalidade médica. Diante do espetaculoso lobby médico-hospitalar não é difícil presumir que alguém lucrou de forma exorbitante. No fim das contas, a inquebrantável convicção de que usuários de SUS e convênios jamais terão oportunidades terapêuticas nem parecidas. Sim, porque ambos, para economizar, são mestres em retardar autorizações de tratamento, esperando que os doentes desencarnem naturalmente.
O fato é que tampouco o admiro como um ás do empreendedorismo. Num país que tem um iluminado como Lulinha Júnior (nosso Bill Gates), Alencar não passa de um mascate, de um vendedor de bananola. Nem precisaria ir tão longe. Aqui mesmo, na terrinha, vulgarizou-se o desabrochar de gênios financeiros: verdadeiros impérios patrimoniais são erigidos a partir de secretarias de governo ou prosaicos mandatos eletivos.
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